A Garganta da Serpente
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Primeiros sintomas

(R. Carvalho)

Toda luz vem de cima, cai nos ombros e acolhe o plasma das negociações intermináveis. Ele morava ali do lado. Saiu para um passeio e não chegava. Alguns dizem que estava entrando no Café, quando foi abordado por cinco homens de preto, com casacos longos e as mãos presas em luvas, também pretas, de couro.

Algumas outras pessoas que já estavam no Café, entre elas uma mulher que carregava na cabeça um lenço branco amarrado embaixo do queixo, deixando transparecer, apenas olhos, boca e nariz, que indiciava sobejos do oriente, foi quem denunciou haver nas mãos de um dos cinco homens uma adaga que brilhava mais que os olhos de pânico do homem abordado.

Poucas pessoas queriam dar seus depoimentos, alguns até deixaram o café, pagando a conta sem nem terminar seus lanches. Houve até uma senhora e seu companheiro que saíram tão rápidos, que deixaram duas cadeiras de vime sob o rosto do chão, um piso uniforme, de cor marrom claro, com desenhos ásperos e geométricos.

Foram ouvidas mais algumas pessoas, mas ninguém soube entender o que realmente aconteceu com aquele homem que só queria dar um passeio. Apenas uma senhora mostrou a porta de um hotel do outro lado da rua, em que um rapaz moreno e careca, com roupas largas e coloridas, com uma bota de cano alto, olhava fixamente para nós. Foi num átimo que o olhamos e ele correu. Corremos atrás dele, entre ruas estreitas e mais ruas estreitas, tentávamos alcançá-lo, porém sua destreza e jovialidade não nos deixavam nem mesmo chegar mais próximo.

Estávamos quase a desistir, já de costas a abandonar o local, quando ouvimos um estrondo e um som rígido de pneus tentando vencer o asfalto ao se queimarem numa brusca e forte freada. Corremos para o local, mas o rapaz havia sido jogado longe, sem vida, perto de um carro estacionado.

Como já não havia mais o que fazer, fomos apenas conversar com o motorista que o atropelou, mas a surpresa foi imensa, pois quem ali estava, era o homem que havia saído para dar um passeio. Ele estava nervoso e nos disse que havia conseguido escapar de um sequestro relâmpago a quase uma hora, das mãos de cinco homens e por isso estava tão machucado. E estava mesmo, todo cortado no rosto e os braços repletos de hematomas.

Entre risos e um choro compulsivo, ele nos dizia que hoje mataria o amante de sua esposa, um jovem rapaz, mas antes que o fizesse foi quase morto pelos sequestradores, porém, num choro mais forte ainda, disse-nos, que sem querer, acabara de atropelar o amante de sua esposa!

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