Casei-me.
Um dia ela me pediu que chegasse mais cedo. À noite encontrei-a dormindo
à mesa de jantar. A comida permanecia fria e azeda de tanto esperar.
Empresário não tem tempo. Meus negócios eram importantes.
Levei-a nos braços para cama.
Outra vez, carinhosamente, me solicitou que eu lesse um poema ou cantasse uma
cantiga de ninar para que adormecesse. Sorri de sua loucura e dormi.
Era seu aniversário. Naquele dia estava em Brasília fechando alguns
contratos.
Eu era um homem muito ocupado.
Naquela manhã recebo um recado no hotel: Maria Luiza precisava de mim
urgente. Abandonei tudo. Queria somente Maria Luiza.
Tomei o primeiro voo. Comprei um bouquet de flores amarelas e brancas
e uma joia, tal como gostava. Meu coração batia forte e
uma saudade imensa invadira meu peito. Em meu corpo havia uma ânsia de
abraçá-la, tocar-lhe os cabelos sorrir, como há anos fazíamos.
Estava renascendo. Iria viver novamente.
Chegando ao apartamento não a encontrei. O vizinho, com olhos tristes,
falou apenas que comparecesse ao Velório do Bosque da Esperança.
Imaginei o seu ato de caridade: Talvez estivesse confortando alguém em
pêsames.
Chegando ao velório observo as pessoas dirigindo-se a mim. Olho e vejo
Maria Luíza no caixão toda coberta de flores brancas e amarelas,
iguais às que eu havia comprado.