Hoje pela manhã vi homens trabalhando arduamente para colocarem enfeites
de Natal nas vias. Subiam em postes, botavam lâmpadas e ao mesmo tempo
espantavam os meninos de rua que por ali perambulavam atraídos pelo brilho.
Maldita curiosidade em relação à alegria têm esses
moleques.
Ontem recebi mais um convite para jantar, onde decidiremos como será
o Natal sem fome. Quantos anúncios publicitários devem ser feitos
para se ajudar ao próximo? De quanto é a doação
para acreditarmos no programa Fome Zero?
Final de ano! Qual é a maneira de pagar o tributo social com aqueles
tratados como inferiores durante onze meses?
Do décimo andar vejo novos cartazes com propagandas de olho no décimo
terceiro, não andar, mas salário. Começo a pensar que para
ser uma pessoa normal, vou ter que trocar todos os celulares da família.
Já estão tão fora de moda!
Maria...Ah! Maria... Não há relatos que tenha tido acompanhamento
pré-natal. Jesus não fez o teste do pezinho, José não
tinha Bolsa Família, os reis não foram avisados por celular.
Estranha ultrassonografia do passado, bizarra ressonância magnética
do presente que só falta ler a nossa mente. Ainda assim continuamos esquecidos
da desigualdade durante o ano todo e só nos lembramos em cima do laço.
Maria já entrou no nono mês!