O major veio transferido de Washington para o RJ.Aqui ainda era capital.
Quando a família de americanos instalou-se na casa bem ao lado da minha, mamãe contou-me que minha irmã mais velha ficou toda metida. Afinal
naquela época americano era show, Broadway, rock'n roll. O major Lincoln, dona Margareth, Beth a filha mais velha, Fred o do meio e Roberto o caçula eram na nossa rua, o sinônimo de poder.
Sabem como é né? American way of life.
Os brinquedos deles eram tudo de bom que a gente sonhava, patins, bikes,
bonecas com olhos que mexiam, bebês de borracha mole, e tia Meg tinha
liquidificador, batedeira elétrica, aspirador pequeno quase portátil
(perto do tiranossauro lá de casa era espetacular).Eles eram um filme
da Metro Goldwin Mayer ao vivo.
Não eram metidos "a besta" não.Eu tinha três aninhos
e pouco e não me lembro bem dos pequenos detalhes. Ficou registrado no
entanto em minha memória e em fotos, o começo do meu american
dream , e Bob virou meu amiguinho inseparável, segundo as más
línguas (minhas irmãs), meu primeiro namorado.Será que
foi o meu primeiro amor?
Trocamos muitas figurinhas e jogamos juntos no telhado de minha casa, nosso
primeiro dentinho de leite que caiu, para crescerem outros bem fortes. Demos
beijinhos nos dodóis e ficamos de castigo juntos.
Sentimos medos dos mesmos monstros e tivemos heróis quase iguais.
Quando estávamos com sete aninhos o major se foi.
Eu cresci e o meu "dream" mudou radicalmente. Passei a querer ser
noiva do Guevara. Lembrei-me de Bob poucas vezes depois que ele se foi, uma
delas durante a guerra do Vietnã.Imaginei se meu amigo amado, o mesmo
que me ensinou a andar de velocípede, estaria entre aquelas bombas.
Tornei a pensar nele no tal 11 de setembro.
Conclui que talvez Bob é que tenha tido um brazilian dream, no
decorrer de sua vida.