A Garganta da Serpente
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(Rosa Pena)

Eu sei que tu voltas, pois nasces em mim. A cada amor nosso eu te dou a luz. Sim, faço-te meu rebento, meu menininho quando me penetras e navegas em meu ventre. Indefeso, totalmente indefeso quando te alojas por inteiro. Teu nascimento é na hora do gozo e como todo bebê, gritas. Depois dormes e eu te embalo com um sorriso. Por vezes te achas um homenzinho e partes fingindo independência. Ah! Foi-se o tempo em que eu ficava zangada, pois sei que tu voltas quando descobres que ainda não virou gente grande, ainda és um moleque que quer sugar os meus seios, mais ainda, muito mais, queres de novo e sempre meu corpo todo, meu cheiro, meu paladar, nadar em mim, pois necessitas dele para renascer e ser. Lindo mais que lindo meu eterno miúdo, meu afeto, meu adorável feto, quando te percebo pequerrucho e desarmado; assim ficas quando engolido por minha paixão. Eu sei que tu voltas, por isso nunca te digo adeus. Voltas carente, um pedacinho de gente pra tua terra natal. Não vives sem meu encanto de sabiá. Sabes mais do que eu que retornas faminto, talvez seja esse o motivo maior das tuas idas, para saborear em meu rosto o gosto da revolta. Finjo pra te agradar! Bon appétit.

É só questão de saber esperar, nove dias, nove horas, nove minutos, segundos... Abro a porta.

  • Publicado em: 11/10/2005
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