Era o meu último daquele dia e foi preciso um cuidado redobrado. Ah!
Apenas um canudinho. Um canudinho comum, desses brancos, com listas vermelhas
longitudinais, mais grossos que os normais, e com uma parte sanfonadinha numa
das extremidades.
Enfiei-o, cuidadosamente, no orifício da máquina, conforme ditam
as instruções. Lá dentro é um pouco apertado, mas
há privacidade e só se ouve o som das engrenagens, pois é
preciso muita concentração no sopro, senão pode dar cacaca
e sabe-se lá o que pode sair. Mas eu nunca tive problemas. Já
me sentia bastante seguro ao fazê-lo, todavia fui bastante cauteloso,
em razão da atmosfera que se cria, sempre a mesma, como se fosse sempre
a primeira vez. Uma estranha sensação que me toma, num misto de
ansiedade, euforia e medo. Sim, medo. Um medo quase aterrorizante, e sinto o
coração disparar ao ver o látex aos poucos tomando a forma
imaginada, avolumando-se e crescendo em curvas do outro lado. Depois, a cor,
no início em tom bege bem suave, transformando-se num nuance mais clarinho,
quase branco. E o final era fantástico, senão perfeito, e a mim,
ao menos, muito particularmente, era sempre muito, mas muito gratificante. Sabe?
Sentir aquele cheiro de novo, assistir a primeira inspiração,
ao andar desajeitado, ao movimento dos olhos e dos lábios, ao primeiro
sorriso. I-nes-que-cí-vel!
Outro dia, acidentalmente, uma se foi. Como pode um maldito alfinete fazer tamanho
estrago? Foi uma brincadeira boba entre elas... Repreendi-as, claro! Elas até
emudeceram ao estranharem minha reação, mas também... Meu!
Fico... (Desculpe! Não consigo controlar a emoção!)
Fico com os olhos cheios ao lembrar, e a imagem de vê-la esvaindo-se daquela
maneira, sem poder fazer nada, é de matar. Quase como perder uma filha.
Claro! Nunca deixo transparecer, mas tenho preferência pelas Mônica(s).
Amo-as todas, sem distinção, mas sempre há aquela afinidade
instintiva, inexplicável. Então, lá estava eu para tentar
reconstruir a perfeição e a harmonia. Dez reais, a entrada. Até
que não é caro e vale a pena. E fui tentar repor quem se fora
tão cedo e de maneira tão tola. E parece que era para ser assim,
pois dera tudo certo. E em casa já tenho (adultas, todas!): duas Jennifer(s)
Connelly, duas Isabelle(s) Adjani e, com esta última agora, três
Mônica(s) Bellucci.
E não há o que possa retratar a felicidade que me dá ao
vê-las daquele jeito tão espontâneo e natural, brincando,
conversando e rindo, nuas pela casa, e me perco ao admirar aquelas bolhas, como
as de sabão, saindo das suas bocas ao falarem meu nome. Como a gente
se apega! Como a gente se apega!
(...)