Aquele casal de vizinhos era mesmo inseparável. Viviam um intenso caso
de amor. Para eles, convenções sociais e preconceitos simplesmente
não existiam. Quantas pessoas não gostariam de amar e ser amadas
desse jeito!
Mas, além da relação amorosa, que não faziam questão
de esconder, a amizade e o companheirismo eram marcas muito fortes. Sem falar
na cumplicidade.
A beleza física e a juventude dos dois também despertavam atenção.
Por este motivo, era comum as pessoas pararem para vê-los nas tantas brincadeiras
ao ar livre, sob a luz do sol, ou na chuva, em meio às flores dos tantos
jardins que frequentavam.
E as famílias de ambos ficavam muito envaidecidas, ante os constantes
elogios que vinham de toda parte, como se a elas coubesse o mérito por
tudo aquilo. A visão deles evocava reflexões sobre a beleza da
vida, a pureza, a simplicidade e o enorme prazer que é viver. Contemplá-los
era ver a felicidade personificada, ao vivo e a cores.
Um dia, a fatalidade veio visitar-lhes, como para testar a firmeza do que nutriam
um pelo outro. Foi numa manhã de sol, tão linda e intensa como
as tantas outras já vividas. Sabrina acidentalmente envenenara-se.
Diante do seu sofrimento, Félix estava impotente. Simplesmente, nada
podia fazer, exceto ficar ali, assistindo sua agonia e desejando que alguém
viesse para ajudá-la. Queria falar, mas não podia. Queria gritar
- talvez até, tenha gritado! Em vão.
A esta altura, a família de Sabrina já estava à sua procura,
uma vez que ela não costumava passar tantas horas assim fora de casa.
Como não estivesse longe, não demoraram a achá-la, ao lado
do inseparável companheiro.
Levaram-na imediatamente, mas era tarde. Sem poder fazer mais nada, Félix
foi para casa com sua tristeza. Naquele dia, não comeu nem saiu mais
à rua. Nem mesmo seus miados foram ouvidos mais.