A Garganta da Serpente
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Odores

(Raymundo Silveira)

Amanheceu sentindo o cheiro dos quinze anos. Um aroma virtual da seiva dos canaviais, dos aguapés, dos cajueiros, dos sapotizeiros, dos jenipapeiros. A ele vinha se ajuntar um outro mais exótico. Este podia não ser tão poético, porém não era menos excitante: o de um misto de queijo camembert e água sanitária. Que, depois de um gozo jamais experimentado, refluíra e escorrera sobre sua pele, pela primeira vez, numa manhã igual àquela, há precisamente seis lustros.

Essa insólita mistura de tantos e tão diferentes odores originava múltiplas reações. Rubores, estremecimentos e intumescimentos. Afluxos de volúpia perpassavam-lhe o corpo inteiro. O dia estava de bom-humor. O sono de anteontem havia sido aplacado depois de uma noite calada. Apesar das marcas discretas da passagem dos anos, não se manifestava nenhum vestígio de nostalgia.

Acendeu um cigarro e atirou fora após duas tragadas. Presumia que estivesse só, não tinha certeza. Levantou-se, tomou uma demorada ducha morna, vestiu um roupão e foi à cozinha. Estava a empregada. Era uma menina-moça entre a puberdade e a juventude. Pele trigueira, boca carnuda, cabelos ruivos, olhos verdes e faceiros. Apesar da intensa excitação, tratou de disfarçar: não se sentia à vontade para seduzir meninas.

Pensou em se masturbar. Decidiu evitar por causa da sensação de vazio que vinha depois. Pôs-se, mais uma vez sob o chuveiro. Agora com a água numa temperatura próxima do zero. Pouco lhe valeu. Deixou o quarto. Um quarto de hora mais tarde, as ondas de volúpia retornaram com maior intensidade. O desejo era irreprimível. Voltou à cozinha. A quase criança havia saído. Encontrou outra pessoa de quem se acercou, abraçou e colou sofregamente, os lábios trêmulos nos outros lábios, também trêmulos e mornos. Mal se beijaram. Daí em diante não se separariam mais, até o último espasmo. Sempre atracados, se encaminharam para o quarto, como se fossem travar um violento combate corpo a corpo... Mais tarde nenhum dos dois entendeu como conseguiram chegar até a cama.

Deitou-se de costas. O pênis vermelho e longo como um poste de carne rígida, emitia mucosidades lúbricas e lubrificantes que os faziam delirar. Afastou as pernas e o jardineiro penetrou-a até o âmago da sua alma feminina.

(20/06/2005)

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