Quero encontrar no dicionário do meu destino, o significado da palavra
arbítrio.. Quero depois libertar meu arbítrio. Quero que voe o
meu poder de decisão! Eu quero defender, com minha covardia se preciso
for, os deslimites dos meus rumos. Quero fazer da manhã uma estratégia
pra te amar. À tarde, eu quero protestar contra a burocratização
dos sentimentos, e contra nosso amor, se a maior parte de nós cair na
rotina. Quero, à noite, partir contigo em lua de mel. Quero ter felicidade
do teu lado, mas também quero ser minha melhor companhia. Quero lutar
pelos meus moinhos de vento, alimentá-los com meus furacões -
e com os dos outros; despir das ilusões os preconceitos, e mudar de ideia
se a minha ideia mudar. Não quero trocar de ideia como
quem troca de roupa, mas não trocar nunca, eu também não
quero. Vai que eu emagreço, vai que eu engordo demais? Não quero
ter a ideia de uma ideia me apertando. Eu quero o conforto, ainda
que à boca do desconforto do caos...
Eu não quero tão simplesmente querer. Quero edificar meus desejos.
Mas não quero podar vontades. Quero somar desequilíbrios até
encontrar o equilíbrio perfeito de todas as minhas contradições
- sobretudo as insustentáveis.
Porque eu quero cair para me reerguer, me esvaziar de tanto me encher, aprender
com o sim e com o não. Quero ter a casa cheia de talvez, e não
perder a hora do sonho. Não quero ser pontual com o sofrimento, subserviente
com a preguiça, amável com o desprazer. Não quero prazer
que dá e passa, quero cultivar meu prazer. Quero cair em tentação
todas às vezes que houver uma ditadura em jogo. Quero ser e não
ser livre. Quero voltar pra casa e ter alguém me esperando, ou saber
que me terei só pra mim. Quero mesmo, sempre que impossível, este
querer limpo, livre... Por um triz.