A estrada cortava a cidade perdida no meio do nada.
Eu já ia meio sonolento dirigindo minha carreta na madrugada. Diminuí
a velocidade e comecei a procurar por um lugar para encostar meu caminhão
e puxar uma "palha". Um posto de combustível serviria: não
pretendia parar por muito tempo pois já estava atrasado para a entrega
da carga.
A noite estava fria, úmida e com muita neblina. Não conhecia os
detalhes da rota. Era a minha primeira vez por aquelas bandas.
Procurava por alguém para que me indicasse um bom local para parar. As
calçadas estavam completamente desertas devido ao adiantado da hora.
Nisso vi a garota. Custei a crer em meus olhos: linda, loira, gatíssima!
Usava vestido preto, salto agulha, meias pretas, cabelo com corte reto e franja
bem aparada. Elegante, sexy, muito sexy!
Xi! - pensei - é agora! Tirei a sorte grande!
A moça parecia imóvel, com o olhar perdido e desamparado.
Parei o caminhão, desci e dirigi-me a ela. Nossa! Era realmente uma teteia!
Gatíssima!
- Boa noite moça! Não se assuste! Só quero uma informação.
Ela não respondeu nada. Permanecia silenciosa.
Não tenha medo, falei.
Então ela virou-se lentamente para mim, e ,como uma deusa, dirigiu-me
um olhar penetrante que me paralisou.
- Como? O que quer? Quem é você?
- Raimundo dos Anjos, a seu dispor, senhora!
- Pode me chamar de senhorita. Maria da Luz do Prado. Prazer!
- Maria... o prazer é todo meu! Você, por acaso, sabe de algum
lugar seguro onde eu possa estacionar o meu caminhão para descansar um
pouco?
- Sei sim, respondeu a gata, com um olhar de naja hipnotizadora.
Eu já estava totalmente encantado. Até já perdera o sono.
Que mulher! Que seios! Que pernas! Que corpo!
- Quer me indicar o caminho? Você mora aqui perto? Posso levá-la
até em casa.
- Aceito, obrigada. Tem um posto de gasolina logo ali na frente.
Rodamos alguns quarteirões e ela disse:
- É ali! E apontou o pátio escuro do posto.
Estacionei o caminhão e logo a gata me agarrou e foi logo me beijando
a boca com furor. A mulher era um vulcão! E eu não resisti. Fizemos
amor ali mesmo na minha cama, na cabine do caminhão.
Passado algum tempo, resolvi seguir viagem, não sem antes deixar a preciosa
em casa. Ela foi mostrando o caminho e logo disse:
- Pode parar. Aqui está bom! Já estou em casa.
Eu olhei espantado para ela e disse:
- Mas aqui é o cemitério da cidade!
- É aqui que eu moro. Obrigada. Até mais ver!
- Espera aí, você está de palhaçada comigo, não
é?
- Não. Não estou não. Prazer em conhecê-lo. Adeus!
Fiquei sem reação por alguns segundos enquanto via a Maria abrir
o portão do cemitério, me acenar sorrindo e tranquilamente
caminhar para o interior.
Muito intrigado e movido pela curiosidade, peguei minha lanterna, desci do caminhão
e a segui por entre os túmulos, já muito irritado com a palhaçada
da Maria: será que ela queria mais? Queria transar num túmulo?
Muito exótica, pensei. Para mim iria ser a primeira vez, num cemitério.
Confesso que estava amedrontado, mas a Maria valia a aventura esquisita.
Maria passou por algumas ruas, contornou alguns túmulos e de repente
sumiu por trás de uma lápide. Chamei em voz baixa:
- Maria, gatinha! Maria! Seu garanhão chegou!
Silêncio! Nenhuma resposta.
Contornei o túmulo e iluminei a lápide.
Lá estava Maria, sorridente, olhar maroto, em uma foto. Havia uma inscrição.
Comecei a ler:
"Aqui jaz Maria da Luz do Prado,
vida ceifada em plena juventude,
no auge da alegria de viver.
Que Deus lhe dê vida eterna!"
Desmaiei!