A Garganta da Serpente

O Conto do Gestor Assassino

(RVB Celestino)

Ele matou. Fez isso com a tranquilidade e frieza de quem não se importa nem um pouco com o próximo. Em sua burrice doentia assassinou esperanças, sonhos, perspectivas e alguns futuros profissionais prósperos naquela empresa. Em seu primeiro dia se fez de bom menino. Sorrisos pra lá, outros pra cá. Sorrisos visivelmente inseguros. Sorrisos de desespero. Sorrisos de "o que estou fazendo aqui!". Mas não poderia perder aquele emprego, muito menos o salário. Faria o que fosse necessário para firmar-se naquela empresa. Até mesmo matar. Ele sabia que não estava preparado para assumir aquele cargo. E seus subordinados também. Mas eles não podiam fazer nada. Aquele camarada sorridente não estava ali por acaso, era peixe grande. Surgiu do nada, mas vindo indicado por alguém. Alguém tão burro quanto ele, mas fazer o que?

Os dias passaram.
As semanas.
Passados pouco menos de seis meses aconteceu.

Um por um foram embora.
No mesmo dia, na mesma hora, por conta própria.
Os subordinados daquele inseguro, desesperado e perdido Gestor abandonaram o barco para assistir o naufrágio de camarote, longe dali. A pressão, a falta de preparo, a falta de comunicação e a falta de transparência fizeram daquela empresa um inferno, assassinando toda a motivação da equipe. O pior é que ele precisava de todos, pois em sua arrogância não admitiu que soubesse pouco.
Ninguém foi demitido. Todos se demitiram.
A equipe cometeu um suicídio, mas era algo feliz, como se soubessem que renasceriam em outro lugar melhor para se trabalhar.
O Gestor matou sua própria carreira naquela empresa que deveria ter sido um lugar melhor para se trabalhar.

E assim todos viveram felizes para sempre, até o Gestor que descobriu que essa vida de assassino não leva ninguém a lugar nenhum.
"...relatos encontrados na agenda de um subordinado horas após os crimes...."

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