Ele matou.
Fez isso com a tranquilidade e frieza de quem não se importa nem
um pouco com o próximo. Em sua burrice doentia assassinou esperanças,
sonhos, perspectivas e alguns futuros profissionais prósperos naquela
empresa. Em seu primeiro dia se fez de bom menino. Sorrisos pra lá, outros
pra cá. Sorrisos visivelmente inseguros. Sorrisos de desespero. Sorrisos
de "o que estou fazendo aqui!". Mas não poderia perder aquele
emprego, muito menos o salário. Faria o que fosse necessário para
firmar-se naquela empresa. Até mesmo matar. Ele sabia que não
estava preparado para assumir aquele cargo. E seus subordinados também.
Mas eles não podiam fazer nada. Aquele camarada sorridente não
estava ali por acaso, era peixe grande. Surgiu do nada, mas vindo indicado por
alguém. Alguém tão burro quanto ele, mas fazer
o que?
Os dias passaram.
As semanas.
Passados pouco menos de seis meses aconteceu.
Um por um foram embora.
No mesmo dia, na mesma hora, por conta própria.
Os subordinados daquele inseguro, desesperado e perdido Gestor abandonaram o
barco para assistir o naufrágio de camarote, longe dali. A pressão,
a falta de preparo, a falta de comunicação e a falta de transparência
fizeram daquela empresa um inferno, assassinando toda a motivação
da equipe. O pior é que ele precisava de todos, pois em sua arrogância
não admitiu que soubesse pouco.
Ninguém foi demitido. Todos se demitiram.
A equipe cometeu um suicídio, mas era algo feliz, como se soubessem
que renasceriam em outro lugar melhor para se trabalhar.
O Gestor matou sua própria carreira naquela empresa que deveria
ter sido um lugar melhor para se trabalhar.
E assim todos viveram felizes para sempre, até o Gestor que descobriu
que essa vida de assassino não leva ninguém a lugar nenhum.
"...relatos encontrados na agenda de um subordinado horas após
os crimes...."