A neblina espessa, tal como um espectro libertado do negro manto da noite,
parecia querer envolver todo e qualquer corpo ao seu alcance.
Na calçada ouvia-se apenas o som dos sapatos de Elizabete, cujo som parecia
ser absorvido juntamente com toda a paisagem, pelo branco nevoeiro que se avultava
noite adentro.
Elizabete retornava de um sarau que fora prestigiar numa modesta casa que também
servia de sede para o grupo de teatro que promovera o evento, que tinha como
finalidade reunir parte dos artistas da cidade, para apresentarem seus trabalhos.
Seus longos e louros cabelos, desenvolviam um ballet ao sabor de uma suave brisa
que parecia querer fazer parte daquela hora mórbida.
Nas ruas as sombras das árvores e edifícios projetavam-se nas
calçadas desenhando traços e figuras das mais variadas formas.
Ao passar diante de um pequeno prédio de portas negras como ébano
e figuras talhadas semelhantes à flores e dos mais diversos aspectos
e tamanhos, ouviu uma voz sussurrada e trêmula, ordenando para que parasse.
Parando abruptamente e voltando seu olhar para trás, viu um par de mãos
saindo entre as sombras, segurando um revólver que apontava em sua direção
- nem mais um passo moça, fique onde está. Petrificada pelo medo,
Elizabete não conseguia falar uma só palavra, pois sua atenção
estava para o pérfido instrumento, cujos contornos avultavam-se ainda
mais ao ser envolvido pela neblina juntamente com uma fraca luz proveniente
de um poste de iluminação pública.
Consciente da gravidade da situação e que sobretudo estava sozinha,
Elizabete suplicava para que não a matasse, pois se tratando de dinheiro
ela tinha a solução. - São as vozes, essas vozes dentro
da minha cabeça, dizendo pra matar, matar, elas me deixam louco. . .
- gritou o misterioso personagem que permanecia oculto na sombra.
Sentindo que suas chances de escapar com vida estavam reduzidas ao mínimo,
Elizabete apenas chorava de joelhos, com as mãos no rosto, na esperança
que tudo aquilo fosse apenas um devaneio, do qual sairia a qualquer momento,
mas antes que qualquer outro pensamento passar-lhe na mente, ouve-se um grande
estampido e um projétil perfura sua testa.
Abandonando as sombras, que serviram de esconderijo para o seu intento funesto,
ele dirige-se até o corpo de Elizabete e retirando um estilete do bolso
de sua calça, desenha um pentagrama na fronte de Elizabete, em torno
do buraco de bala, formado por arranhões com a ponta de seu instrumento
cortante, abandonando em seguida o corpo junto a uma árvore da calçada.
Seguiram-se dias, que a imprensa cobriu o assassinato e sendo uma incógnita
a identidade do assassino, apelidaram-no de assassino do pentagrama, pois Elizabete
não fora a primeira e na lógica criminalística das autoridades,
não seria a última
Passara-se um mês, era uma noite extremamente fria e um homem de pele
morena e baixa estatura, caminhava em passos lentos com mãos nos bolsos
de seu sobretudo - parecia caminhar despreocupado pois as únicas companhias
eram alguns mendigos que procuravam refúgio do frio na estação
subterrânea do metrô.
Entretanto, de quando em quando algo parecia despertá-lo de suas divagações,
algo como uma presença, ou alguém a chamá-lo, mas presumia
ser fruto de sua imaginação. Mas subitamente sua atenção
voltou-se para uma jovem loura que ajoelhada chorava próximo a uma coluna.
Intrigado com sua súbita presença, queria chamá-la, mas
antes que pudesse chamá-la, ela levantou-se e começou a caminhar
em sua direção e para sua surpresa maior notou que seus pés
não tocavam o chão e seu rosto denotava uma expressão de
profunda tristeza. Pra aumentar ainda mais o terror, foi quando viu um pentagrama
gravado em sua testa - não, não pode ser, você está
morta, está morta. . . - gritava caminhando para trás, quando
subitamente sentiu o chão faltar-lhe sob os pés, caindo em seguida
sobre os trilhos do metrô.
Sua queda foi fatal, pois o impacto de sua cabeça sobre os trilhos do
metrô, ceifou-lhe a vida instantaneamente. Concluída a vingança,
o espectro foi dissipando-se tal como uma neblina. Restando apenas um corpo
estirado sobre os trilhos, com a tatuagem de um pentagrama na palma de sua mão
esquerda.