A Garganta da Serpente
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Feliz Natal!

(Suzana Bertuol)

Este Natal seria diferente, pensou Tiago, ao amassar o nariz no vidro da janela. Na rua, pessoas corriam apressadas com sacolas de presentes. Algumas se empurravam na entrada do supermercado para garantir a ceia. Carros com motoristas impacientes buzinavam em meio a xingamentos.

Voltou a sentar-se diante do computador. Tímido e filho único de pais também filhos únicos, nem primos tinha o menino. Em casa, sempre os mesmos assuntos, negócios da empresa. Não era de agora que vinha pedindo um irmãozinho. "Talvez algum dia, filho...", enrolava a mãe.

Levantou-se entediado. Já era Natal e para a noite esperava o cumprimento de uma promessa. Não queria mais saber de jogos eletrônicos, nem de amigos virtuais.

Parou em frente ao espelho e pensou na proposta que fizera ao pai há um bom tempo. "É um irmãozinho ou um cachorro!". Tiago sorriu ao lembrar-se do quanto o pai detestava cachorros.

À noite, o jantar esteve impecável. Visita dos avós, toalha vermelha, frutas, brindes, castanhas. À espera do Papai Noel, o coração do menino batia forte e feliz. O relógio badalou doze vezes. Os presentes, sob a árvore, foram abertos, um após outro. Gravata para o pai. Chapéu. Porta-retrato. Anel para a mãe.

Nada de anúncio de irmãozinho. Impaciente, Tiago esfregava as mãos. Exigiria, pelo menos, o cachorro.

- E agora a grande surpresa. - A mãe alcançou a caixa.

- Eu tinha pedido um irmãozinho ou um cachorro, pai, lembra?

- Abre o pacote, filho!

Despido de emoção, o menino desembrulhou o papel de presente. As engrenagens saltaram para fora...

- É o que você pediu. Um cachorro, só que diferente. Este não faz xixi, nem perde pêlos. Mas, olha, ele dá a patinha e até late, faz cambalhotas e responde aos seus carinhos. Tenta passar a mão em suas costas!

O cachorro robô esfregou-se mecanicamente contra o tapete. Tiago apertou o nó na garganta e esboçou um desbotado sorriso amarelo.

(1° lugar no 3° Concurso Regional de Poesias, Contos e Crônicas Oscar Bertholdo, Pref. Farroupilha - RS
Selecionado entre os 100 finalistas Prêmio Porto Seguro de Contos Curtos 2009)
  • Publicado em: 15/05/2017
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