A Garganta da Serpente
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Concentrados e distraídos

(Tamara Costa)

"every time I rise I see you falling
can you find me space inside your bleeding heart..."
Passive Agressive, Placebo

Apertado. havia uma gravata sufocada em seu pescoço. com calma desviei meu olhar já sufocado entre os nós que cada vez mais apertavam nossas gargantas. um moinho, como uma epiglote momentânea nasceu e a partir daquele instante já não restavam mais palavras, já não saía mais nada. Tudo estava preso e entalado e cheio de sangue. Cheio de mágoas. Navalhas. Capturas e estátuas. A ação: como alguém que tapeia uma cara que não é sua. ou como um desrespeito bem vestido que nasce não se sabe, entre a elegância e o desastre. talvez ódios outros entalados que você não quis dizer, aí mesmo se enforcaram sobre nossos corpos. sobre uma cama que não cheirava a nada. e você insistia em dizer que fedia. que algo estava com mau cheiro dentro daquele lugar. e fostes ao banho. meia hora de chuveiro e mais duas ou três camadas de perfume e creme. agora tudo estava cheirando. cheirava uma camada. Superficial. nada estava em ordem. Nunca. nem o cabelo penteado nem a calça lavada nem o sovaco desodorizado. tudo debaixo do tapete. Não havia tapete. tudo estava em perfeita ordem. Não havia ordem. a perfeição se fantasiou de acaso, para simular um encontro mágico. Não havia mágica. eu não te conhecia, tudo mentira.

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