Quando a vi pela primeira vez, meus olhos alcançaram um brilho jamais
visto por um outro ser. Era linda, e eu mal sabia que ela iria fazer parte da
minha vida por inteiro. Ganhei uma bicicleta, e por mais que os dias passassem,
ela era minha sombra, minha metade, minha alma... e por mais que eu crescesse,
ela crescia comigo, viajava em meus sonhos, uma companheira fiel. Estava sempre
comigo, em dias de sol e chuva, verão ou outono.
Mas um dia levei um tombo, fiquei ferido e triste, e lembro que a deixei ali,
jogada ao chão, esperando que eu a levantasse. Mas meu coração
de menino não quis perdoar, estava machucado profundamente e, minuciosamente,
as lágrimas ao rosto caíam.
Depois que o pranto parou, levantei minha bicicleta e segui rumo ao meu destino.
Hoje já velho e cansado, percebi como aquele tombo me fez vê que
a vida era cheia de tombos e, andávamos sempre para frente, seja qual
for a direção.
E com minha bicicleta pude ver que ela fora meu instrumento de alegria na infância, onde os freios foram muitas vezes alerta, onde a velocidade nem sempre era
o melhor resultado, e onde mal ela sabia que me ensinava a viver sobre duas
rodas.