Sem comer há alguns dias. Apenas 3 bolachas de água e sal e alguns
bons goles de muitas cervejas. Não subia: o álcool, naquele estado
de nervos, sequer fazia efeito, mesmo estando sem alimentar-se adequadamente.
Sono? Só o pesado - aquele do corpo que se entrega. E mesmo assim, só
depois do choro - a fronha úmida de tanta lágrima.
Levantava como um zumbi. Esquecera o que era pente, escova de dentes, roupa
limpa, espelho.
Banho, de vez em quando.
Uma dor de barriga a toda hora.
Não queixava - ela achava que era "fita", desculpa prá
não trabalhar.
Sem reação, começou a minguar. Cada vez mais choro, cada
vez mais cerveja, cada vez menos bolacha.
Quebrou o espelho, esqueceu do banho. Já não se importava em acordar
com o cabelo molhado pela fronha chorada.
Esqueceu o choro, quebrou a cerveja. Acabou a bolacha.
Não levantou mais.
E ela, chorando no enterro:
- Desgraçado, preferiu morrer do que trabalhar!
(06/07/03)