Numa tarde de domingo, Rodolfo estava deitado, descansando da sua muito atarefada
vida, quando, de repente, ouviu um ruído muito estranho na rua. Pareciam
passos. Uns passos secos. Os passos ficavam cada vez mais perto. Próximos
a porta, os passos pararam.
Silencio. Depois, alguém abriu a porta e entrou. Rodolfo sobressaltou-se.
Confuso virou-se e levantou a cabeça. Eis que se aproxima da sua cama,
uma bela mulher. Alta, magra, cabelos negros e compridos caindo sobre os ombros.
Seu olhar lembrava o de um predador à procura de uma presa.
- Oi! disse ela, se aproximando.
Estendeu-lhe a mão e o puxou, fazendo-o levantar. O que mais chamou sua
atenção foi sua boca rosada e carnuda. Encantado, ficou pensando
no que iria dizer a ela. Nessas horas não se deve pensar muito. Então,
resolveu perguntar o seu nome. Mas ela não respondeu.
- De onde você vem, perguntou.
Ela disse:
- De muito longe. De nenhum lugar deste mundo. Você nem imagina de onde,
mas não vou lhe contar.
Ele achou muito estranha aquela resposta. Perguntou-lhe novamente o seu nome.
Ela respondeu com palavras chulas, irritando-o. Zangado, ele mandou que ela
se retirasse do quarto. Não queria falar com uma pessoa tão mal-educada
Um silêncio perturbador se fez presente. Ela recuou até a porta.
Seu rosto começou a se transformar. Suas pernas se multiplicaram. A pele
tornou-se espessa e uma coloração branco azulada dominou seu corpo.
A mulher desapareceu e no seu lugar surgiu uma enorme lacraia. Uma baba espessa
e amarela escorreu- se pelo canto de sua boca. Seu hálito fedia como
se ela tivesse comido bastantes cebolas.
Rodolfo empalideceu. O sangue gelou-lhe nas veias e um calafrio percorreu-lhe
o corpo. A lacraia veio para cima dele, com a boca aberta e a língua
para fora. Apavorado girou o corpo rapidamente, se livrou dela e saiu correndo
para a rua, gritando feito um louco. Ela foi atrás dele.
Ao ouvir seus gritos desesperados, as pessoas saíram à rua.. Ficaram
atordoadas ao verem que uma grande lacraia vinha atrás dele. Ao ver toda
aquela gente, a lacraia parou.
Um rapaz saiu do meio da multidão e se ofereceu para matá-la.
Aproximou-se dela com um porrete na mão. Como uma clonagem feita em alta
velocidade, a lacraia se multiplicou em três. E aí,então,
o atacaram. Uma mordeu a sua mão. Com a mordida, a mão dele encolheu
e ficou na altura do cotovelo. O rapaz aterrorizado tentou fugir, precisava
sair daquele lugar horrível, urgentemente escapar daquela criatura demoníaca
e salvar sua vida, mas outra lacraia o mordeu no calcanhar direito. Sua perna
encolheu e o pé foi parar no joelho. Ele caiu. A terceira aproveitou
para mordê-lo na perna esquerda que também encolheu. Suas pernas
ficaram curtas e o rapaz virou um anão.
A confusão foi geral e a gritaria tomou conta de todos. As lacraias avançaram
contra a multidão, mordendo todo mundo. As pessoas mordidas tinham seus
membros diminuídos e todas se transformavam em anões. Ao verem
tantos anões, as pessoas fugiram em uma desembestada carreira entraram
em suas casas e fecharam as portas. Em pouco tempo a rua ficou cheia de anões.
Misteriosamente, as lacraias desapareceram.
Rodolfo, achando que tinha se livrado delas, voltou para o seu quarto e, surpreso
encontrou a mulher na sua cama. A lacraia havia voltado para seu quarto e se
transformado novamente em mulher. Ao vê-lo, assustado, soltou uma gargalhada
estridente e se transmutou em lacraia. Sem tempo de ter qualquer reação,
a fera o agarrou por trás e mordeu sua perna direita que logo encolheu.
Mesmo assim, ele tentou correr. Mas só chegou até a porta, pois
suas pernas não obedeciam ao seu comando e caiu. Ela então o alcançou
e o mordeu na outra perna, transformando-o num anão. Ele desesperadamente
gritava por socorro quando acordou.
O coração batia acelerado dando a impressão que sairia
pela boca. Abriu os olhos procurando a mulher lacraia pelo quarto. Aí,
compreendeu que estivera sonhando, e que muitos sonhos, às vezes, parecem
reais.