A Garganta da Serpente
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A Mulher Lacraia

(Vanderlei Antônio de Araújo)

Numa tarde de domingo, Rodolfo estava deitado, descansando da sua muito atarefada vida, quando, de repente, ouviu um ruído muito estranho na rua. Pareciam passos. Uns passos secos. Os passos ficavam cada vez mais perto. Próximos a porta, os passos pararam.

Silencio. Depois, alguém abriu a porta e entrou. Rodolfo sobressaltou-se. Confuso virou-se e levantou a cabeça. Eis que se aproxima da sua cama, uma bela mulher. Alta, magra, cabelos negros e compridos caindo sobre os ombros. Seu olhar lembrava o de um predador à procura de uma presa.

- Oi! disse ela, se aproximando.

Estendeu-lhe a mão e o puxou, fazendo-o levantar. O que mais chamou sua atenção foi sua boca rosada e carnuda. Encantado, ficou pensando no que iria dizer a ela. Nessas horas não se deve pensar muito. Então, resolveu perguntar o seu nome. Mas ela não respondeu.

- De onde você vem, perguntou.

Ela disse:

- De muito longe. De nenhum lugar deste mundo. Você nem imagina de onde, mas não vou lhe contar.

Ele achou muito estranha aquela resposta. Perguntou-lhe novamente o seu nome. Ela respondeu com palavras chulas, irritando-o. Zangado, ele mandou que ela se retirasse do quarto. Não queria falar com uma pessoa tão mal-educada

Um silêncio perturbador se fez presente. Ela recuou até a porta. Seu rosto começou a se transformar. Suas pernas se multiplicaram. A pele tornou-se espessa e uma coloração branco azulada dominou seu corpo. A mulher desapareceu e no seu lugar surgiu uma enorme lacraia. Uma baba espessa e amarela escorreu- se pelo canto de sua boca. Seu hálito fedia como se ela tivesse comido bastantes cebolas.

Rodolfo empalideceu. O sangue gelou-lhe nas veias e um calafrio percorreu-lhe o corpo. A lacraia veio para cima dele, com a boca aberta e a língua para fora. Apavorado girou o corpo rapidamente, se livrou dela e saiu correndo para a rua, gritando feito um louco. Ela foi atrás dele.

Ao ouvir seus gritos desesperados, as pessoas saíram à rua.. Ficaram atordoadas ao verem que uma grande lacraia vinha atrás dele. Ao ver toda aquela gente, a lacraia parou.

Um rapaz saiu do meio da multidão e se ofereceu para matá-la. Aproximou-se dela com um porrete na mão. Como uma clonagem feita em alta velocidade, a lacraia se multiplicou em três. E aí,então, o atacaram. Uma mordeu a sua mão. Com a mordida, a mão dele encolheu e ficou na altura do cotovelo. O rapaz aterrorizado tentou fugir, precisava sair daquele lugar horrível, urgentemente escapar daquela criatura demoníaca e salvar sua vida, mas outra lacraia o mordeu no calcanhar direito. Sua perna encolheu e o pé foi parar no joelho. Ele caiu. A terceira aproveitou para mordê-lo na perna esquerda que também encolheu. Suas pernas ficaram curtas e o rapaz virou um anão.

A confusão foi geral e a gritaria tomou conta de todos. As lacraias avançaram contra a multidão, mordendo todo mundo. As pessoas mordidas tinham seus membros diminuídos e todas se transformavam em anões. Ao verem tantos anões, as pessoas fugiram em uma desembestada carreira entraram em suas casas e fecharam as portas. Em pouco tempo a rua ficou cheia de anões. Misteriosamente, as lacraias desapareceram.

Rodolfo, achando que tinha se livrado delas, voltou para o seu quarto e, surpreso encontrou a mulher na sua cama. A lacraia havia voltado para seu quarto e se transformado novamente em mulher. Ao vê-lo, assustado, soltou uma gargalhada estridente e se transmutou em lacraia. Sem tempo de ter qualquer reação, a fera o agarrou por trás e mordeu sua perna direita que logo encolheu. Mesmo assim, ele tentou correr. Mas só chegou até a porta, pois suas pernas não obedeciam ao seu comando e caiu. Ela então o alcançou e o mordeu na outra perna, transformando-o num anão. Ele desesperadamente gritava por socorro quando acordou.

O coração batia acelerado dando a impressão que sairia pela boca. Abriu os olhos procurando a mulher lacraia pelo quarto. Aí, compreendeu que estivera sonhando, e que muitos sonhos, às vezes, parecem reais.

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