Pois não seria esse o melhor de todos os mundos possíveis?
Quando bolhas de sabão flutuam cheias de fumaça de cigarro num
bar à meia-noite, naquele instante nebuloso entre a alegria agridoce
do encontro de amigos e o aguardado entorpecer da alma? Belos rostos
palavras
perdidas sem pesar em meio a música
euforia
tristeza
sobretudo tristeza, numa hora e lugar onde não faz sentido falar dela,
embora talvez seja a coisa mais vital do mundo.
Sem palavras então
só sensações
rompantes
porque não admirar a beleza de rostos que nunca serão tocados?
Olhos inquietos, delirantes, mentes tão mais adaptadas ao absurdo de
existir
quase sem raciocínio, reflexão, apenas impulsos,
atos, reações, a vida como uma eterna performance, onde o artista
se rasga e se despedaça no pesadelo de sua própria obra, tão
intrínseca que jamais poderia ser separada do cotidiano.
Quem pode julgar uma pessoa assim?
Quem pode compreender o absurdo de ser uma contradição viva?
Opostos dilacerantes convivendo na mesma mente chapada, sempre em busca do abismo
mais profundo. E por que não?
Contar com eles, ama-los, toca-los? Isso não é para seres humanos.
Deseja-los? Isso sim é possível. Deseja-los desesperadamente!
Até sangrar! Não há lugar para suavidades ao se lidar com
vidas assim: só há lugar para extremos, obsessões, trepadas
ensandecidas seguidas pela solidão de madrugadas insones. E para onde
vamos agora? Mais um bar? Mais uma dose? Claro que estamos afim. A noite inevitavelmente
vai chegar ao fim
e nós sabemos porque somos assim