A Garganta da Serpente
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Fragmento de uma reflexão chapada

(Rodrigo Emanoel Fernandes)

Pois não seria esse o melhor de todos os mundos possíveis?

Quando bolhas de sabão flutuam cheias de fumaça de cigarro num bar à meia-noite, naquele instante nebuloso entre a alegria agridoce do encontro de amigos e o aguardado entorpecer da alma? Belos rostos… palavras perdidas sem pesar em meio a música… euforia… tristeza… sobretudo tristeza, numa hora e lugar onde não faz sentido falar dela, embora talvez seja a coisa mais vital do mundo.

Sem palavras então… só sensações… rompantes… porque não admirar a beleza de rostos que nunca serão tocados? Olhos inquietos, delirantes, mentes tão mais adaptadas ao absurdo de existir… quase sem raciocínio, reflexão, apenas impulsos, atos, reações, a vida como uma eterna performance, onde o artista se rasga e se despedaça no pesadelo de sua própria obra, tão intrínseca que jamais poderia ser separada do cotidiano.

Quem pode julgar uma pessoa assim?

Quem pode compreender o absurdo de ser uma contradição viva? Opostos dilacerantes convivendo na mesma mente chapada, sempre em busca do abismo mais profundo. E por que não?

Contar com eles, ama-los, toca-los? Isso não é para seres humanos. Deseja-los? Isso sim é possível. Deseja-los desesperadamente! Até sangrar! Não há lugar para suavidades ao se lidar com vidas assim: só há lugar para extremos, obsessões, trepadas ensandecidas seguidas pela solidão de madrugadas insones. E para onde vamos agora? Mais um bar? Mais uma dose? Claro que estamos afim. A noite inevitavelmente vai chegar ao fim… e nós sabemos porque somos assim…

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