Triste fim deste dia onde eu vejo os passos daquele rapaz indo tropeçando
por sobre as folhas deste grande jardim. Torso nu, se permanecer parado um mimetismo
grandioso o fará em estátua romana próximo ao chafariz.
Mas há um fluxo, sangue correndo pelas veias, ondas do mar a bater sem
fim nas tristes areias destroçadas em tempos remotos.
Uma saudade imensa deve penetrar-lhe todo, destruir qualquer momento de felicidade
que se esboce em qualquer parte próxima. Triste fim deste dia onde eu
não desejo ver mais nada. Olhos cansados, pés cansados, peito
cansado de tanto bater por nada. Bate, bate... não vou abrir mais esta
porta. Quando chegarem, meu corpo estará petrificado de amargura, de
dor, de não viver... Pois o que adianta se meus pés não
tocam o fundo do lago circundado de grandes árvores antigas.
Vou ao jardim ou ficarei a definhar dentro da minha própria capa de pele.
Meus olhos, que profundidade em torno dos meus olhos... Um poço de tristeza
que emana do fundo de algum lugar... Mas estão estéreis de lágrimas.
Insensíveis. Não produzem mais nada além destas áridas
visões sobre o mundo e sobre as mentes...
O rapaz continua andando sobre o jardim. Se parar, grandes raízes se
formarão a partir dos pés, mesmo calçados, desprotegidos.
Uma grande copa de frutos vermelhos deve brotar se essas raízes decidirem
estuprar a carne. Mas há um movimento sempre. Não pode parar.
Então um grande sono de dor e solidão se aproxima da minha noite.
Escuridão. O rapaz foi engolido pelo escuro das sombras no jardim. Há
um fluxo, um movimento, um barulho que parece ser de aves selvagens da pré-história.
Estridentes gemidos. Tímidos sussurros. Uma grande massa negra. Sem nenhuma
luz.
Quando amanhecer será que estará o jardim repleto de esculturas
amorfas, ou mesmo de folhas secas espalhadas pelos caminhos sinuosos e que sempre
se tocam. Será que minha visão descansará, sem luz forte,
só uma escuridão que me abraça. Um vento frio. Estátua
de mármore. Pedestal com poeira.
Será que haverá uma árvore a mais no jardim, com uma grande
copa avermelhada. Cheia de frutos venenosos, e serpentes enroladas... Um grande
sono, uma solidão árida e quente...
Os pés úmidos, raízes profundas... Fios de ouro... E um
pombo noturno com patas em meus ombros...