A Garganta da Serpente
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Abscesso cotidiano

(Victor Tales)

- Lembra dele? O câncer de estômago? - Não, o gordo que era seu vizinho. - O câncer de estômago também era meu vizinho, de rua, não de casa. - Então, o gordo. - O que tem ele? - Ele está com câncer. - Mas e agora, ele vai ser o vizinho gordo com câncer? - Não sei. - Gordâncer? - Gostei disso, pode ser assim então.

- Assim não confundimos, sempre tem amigo-secreto, melhor saber quem é quem.

- Aquela! - A magrinha casada com o advogado?

- Isso mesmo. - Não sabia. - Pois fique sabendo. - Que vergonha não? - Não sei, os tempos são outros, podemos fazer de tudo hoje. - Será? - Não vê na TV, isso é normal hoje em dia. - Bolo de soja, o que mais vão inventar? - Gosto mais de bolo de cenoura. - Será que é gostoso?

A mãe. Desquitada. - Desquitada não que é feio Jaime, divorciada, melhor assim. - Claro mãe. - Isso é normal hoje, tem filho que até gosta, dois presentes de natal, de aniversário é dois de tudo. - Claro mãe. - Você sabe que não podia dar certo. - Claro mãe. - Seu pai não me dava mais atenção. - Claro mãe. - Ele não me amava mais filho. - Claro mãe. - Era um Deus nos acuda aqui em casa, ele só vinha pra jantar. - Claro mãe. - Não me procurava mais. - Claro mãe. - Eu amava seu pai Jaime. - Claro mãe. - Ele que não me amava mais. - Claro mãe. - Tinha uma amante, todo mundo sabia disso. - Claro mãe. - Você sabia? - Claro mãe. - Mas como filho? Você nunca me contou. - Claro mãe. - Não posso acreditar, você é meu filho saiu de dentro de mim, eu te carreguei por nove meses sou a pessoa que mais te ama nesse mundo. - Claro mãe. - Viu você me valoriza, o seu pai não, ainda bem que você puxou o meu lado da família. - Claro mãe.

- Como? - Cuma sacola de plástico, sabe, tem que se cuidar vai que eu pego AIDIS dele. - Do porco? Porco tem AIDIS? - Claro que sim. - Cara, não sabia. - Você falta muito as aulas de biologia Hermann. - Oscar, como você consegue foder um porco? - Cê não tá ligado mesmo, não era porco, era porca cara. Eu sou macho oras! - Foi mal veio. - É igual foder mulher eu acho, é bom, o problema é usar essa sacola de plástico da uma coceira no pinto. - Cara, não sabia. - Você falta muito as aulas de biologia Hermann. - Mas a porca gosta? - Deve gostar, faz uns barulhos estranhos, igual a minha mãe. - Sua mãe geme igual uma porca? - É tudo mulher cara, geme tudo igual. - Cara, não sabia. - Você falta muito as aulas de biologia Hermann.

Enforcado. A filha era putinha. A mulher era puta.A mãe era putona. Vinha de uma família de tradição, filhos da puta. - Foi por causa da filha. - Era puta né?

- Das mais safadas. - Deus pai! - O pai não. - Não, não. - Não o quê? - Nada. - A família mal tem o que comer e eles vão enterrar ele com esse anel de ouro? - Coisa de tradição, eu acho. - Deus pai! - Não, o anel não é do pai. - Não, não. - Não o quê? - Nada. - Mas olha, dizem que não foi por causa da filha, foi por causa da mulher. - Era puta né? - Das mais safadas. - Deus pai! - O pai não. - Não, não. - Não o quê? - Nada. - Essa maquiagem não ta ficando boa. - Que isso ele ficou até mais novinho. - Isso de maquiar o defunto é muito chique não é mesmo? - Oh se é.

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