- Lembra dele? O câncer de estômago? - Não, o gordo que
era seu vizinho. - O câncer de estômago também era meu vizinho,
de rua, não de casa. - Então, o gordo. - O que tem ele? - Ele
está com câncer. - Mas e agora, ele vai ser o vizinho gordo com
câncer? - Não sei. - Gordâncer? - Gostei disso, pode ser
assim então.
- Assim não confundimos, sempre tem amigo-secreto, melhor saber quem
é quem.
- Aquela! - A magrinha casada com o advogado?
- Isso mesmo. - Não sabia. - Pois fique sabendo. - Que vergonha não?
- Não sei, os tempos são outros, podemos fazer de tudo hoje. -
Será? - Não vê na TV, isso é normal hoje em dia.
- Bolo de soja, o que mais vão inventar? - Gosto mais de bolo de cenoura.
- Será que é gostoso?
A mãe. Desquitada. - Desquitada não que é feio Jaime, divorciada,
melhor assim. - Claro mãe. - Isso é normal hoje, tem filho que
até gosta, dois presentes de natal, de aniversário é dois
de tudo. - Claro mãe. - Você sabe que não podia dar certo.
- Claro mãe. - Seu pai não me dava mais atenção.
- Claro mãe. - Ele não me amava mais filho. - Claro mãe.
- Era um Deus nos acuda aqui em casa, ele só vinha pra jantar. - Claro
mãe. - Não me procurava mais. - Claro mãe. - Eu amava seu
pai Jaime. - Claro mãe. - Ele que não me amava mais. - Claro mãe.
- Tinha uma amante, todo mundo sabia disso. - Claro mãe. - Você
sabia? - Claro mãe. - Mas como filho? Você nunca me contou. - Claro
mãe. - Não posso acreditar, você é meu filho saiu
de dentro de mim, eu te carreguei por nove meses sou a pessoa que mais te ama
nesse mundo. - Claro mãe. - Viu você me valoriza, o seu pai não,
ainda bem que você puxou o meu lado da família. - Claro mãe.
- Como? - Cuma sacola de plástico, sabe, tem que se cuidar vai que eu
pego AIDIS dele. - Do porco? Porco tem AIDIS? - Claro que sim. - Cara, não
sabia. - Você falta muito as aulas de biologia Hermann. - Oscar, como
você consegue foder um porco? - Cê não tá ligado mesmo,
não era porco, era porca cara. Eu sou macho oras! - Foi mal veio. - É
igual foder mulher eu acho, é bom, o problema é usar essa sacola
de plástico da uma coceira no pinto. - Cara, não sabia. - Você
falta muito as aulas de biologia Hermann. - Mas a porca gosta? - Deve gostar,
faz uns barulhos estranhos, igual a minha mãe. - Sua mãe geme
igual uma porca? - É tudo mulher cara, geme tudo igual. - Cara, não
sabia. - Você falta muito as aulas de biologia Hermann.
Enforcado. A filha era putinha. A mulher era puta.A mãe era putona. Vinha
de uma família de tradição, filhos da puta. - Foi por causa
da filha. - Era puta né?
- Das mais safadas. - Deus pai! - O pai não. - Não, não.
- Não o quê? - Nada. - A família mal tem o que comer e eles
vão enterrar ele com esse anel de ouro? - Coisa de tradição,
eu acho. - Deus pai! - Não, o anel não é do pai. - Não,
não. - Não o quê? - Nada. - Mas olha, dizem que não
foi por causa da filha, foi por causa da mulher. - Era puta né? - Das
mais safadas. - Deus pai! - O pai não. - Não, não. - Não
o quê? - Nada. - Essa maquiagem não ta ficando boa. - Que isso
ele ficou até mais novinho. - Isso de maquiar o defunto é muito
chique não é mesmo? - Oh se é.