É pequenino. Nasceu mais embrulho que menino. - Corre, correria, ele
respira com dificuldades. Aqueles tubinhos na boca. A mãe quando viu.
Quase louca. Achava que doía. - Não se preocupe, só por
um tempo. - É feio, parece um ratinho. - O berçário é
bem arrumado; tem bichinho de pelúcia e estrelinha no teto. - Coitado,
prematuro. Sete meses e meio, apressado, apressadinho. - Culpa da mãe;
fumou muito na gravidez. - Culpa do pai; bronquite, magro demais; não
se vê saúde na família desse homem. - Enfermeira onde fica
o bebedouro? No corredor à direita. Um homem esperava o filho. Veio o
médico no lugar. - Sinto muito. - Era tão jovem coitado, nem dezoito.
"DIM, DIM". - Dr. Arthur Telúrio, se apresente à recepção.
- A mãe Dr. Arthur, o filho tossindo muito, quer falar com senhor.
- Osvaldo, como o avô. - Cara do pai. - Parece um ratinho. O enxoval
todo azulzinho. O berço bege com almofadinhas azuis. É azul demais.
Se morrer acha que é céu. - Mãe, eu não gosto do
bebezinho, ele é feio, parece um ratinho. Chora muito. Madrugada toda.
Mama muito. Morde o biquinho do peito. Sai um pouquinho de sangue.
- Liga pro Dr. Arthur, esse menino não para de tossir. Cresceu. - Não
chore, você já tem dez aninhos; mocinho já. - Osvaldo come
devagar; vai engasgar. Magro, magro; parece o pai. Tem um pé maior que
o outro. - Ele vai ter que usar botinha ortopédica. - Ai doutor, vai
doer?
- Mãe olha o Osvaldo. Mexe em tudo. Curioso. Curiosidade matou o gato.
- Eu não sou gato, sou Osvaldo. - Come igual um cavalo e não engorda;
será que é doença? Osvaldo, Osvaldinho, Dinho, Valdinho.
Oitava série. Todo mundo caçoa. Orelha grande. Pé torto.
- Ai, parece bicho; um ratinho. - Osvaldo suas notas andam caindo, fala para
o seu pai, você está usando droga? Odeia escola. Não tem
muitos amigos. Só o baixinho do Plínio. Amigão. Topa todas,
quase irmão.
- Não Osvaldo, vai devagar, meu pai pode chegar. O pinto. Grande, grande.
Maior que o do Plínio. Letícia. Nem feia nem bonita. Primeira
namorada. - Tem uma comissão de frente; delicia. - Já pegou neles?
Biquinhos rosados. Da mãe é meio marrom. Maiores também.
Muito rápido. Nem parece que aconteceu. Dói, dói muito.
Sai um pouquinho de sangue. Culpa do pinto; muito grande. - Eu te amo. - Amor
não, que é forte demais, mas eu te adoro. A camisinha. - Meu Deus!
Ela estourou? Deixa ver. Segunda vez foi melhor. Teve até orgasmo. O
corpo treme todinho, o olho vira, molha tudo lá embaixo. Geme baixinho,
os biquinhos ficam duros, durinhos. Tesão. - Osvaldo. - Diz. - Eu te
amo.
Noite. Tossindo muito. Bronquite atacando. Taquicardia. Corre, correria. Ele
respira com dificuldades. "DIM, DIM". - Dr. Arthur Telúrio,
se apresente à recepção.
- Insuficiência respiratória; infelizmente. Sinto muito. - Calma
mãe; abraça. - O senhor quer um pouco d'água? - Meu filho,
meu filho. A recepção é bonita. Sofá confortável.
São marrons. Dois quadros. E um espelho. - O cafezinho saiu agora? Agora,
agorinha. - Coitada dessa família; o filho. - É.
A enfermeira. - Era tão jovem coitado, nem dezoito. - Feio, parecia
um ratinho.