O cordel

(Alfred' Moraes)

O cordel é uma forma
De versos metrificados,
Paralelos e rimados
Em seqüência completa.
Cuja literalidade
Traz a musicalidade
Quando a leitura é direta.

É chamado de cordel
Somente aqui no Brasil,
Uma alusão ao perfil
Dos autores nacionais,
Que penduravam na corda
Seus livretos, pela borda,
Feito roupa nos varais.

Tem livretos de cordéis
Com estórias fascinantes
Escritas por mil Cervantes
Que nasceram no Brasil.
Se juntar num só volume
Terá a altura do cume.
Do Corcovado no Rio.

Manoel de Almeida Filho
Foi o maior cordelistas,
Francisco Chagas Baptista
E Uglino de Sabugi
Foram Alguns dos pioneiros
Cordelistas brasileiros.
Entre tantos por aí.

O cordel é muito antigo
Vem do tempo dos fenícios
A história tem indícios
Que essa forma de escrever,
Foi usada na Espanha,
E em livros da Lusitânia
Antes de Camões nascer.

Em Portugal se conhece
Pelo nome de "Volantes"
Lá na terra de Cervantes
De "Folhas Soltas" é chamada
Mas, em minha opinião,
A melhor definição
É "Poesia Rimada".

No nordeste brasileiro,
Os primeiros cordelistas,
Quase sempre repentistas,
Musicavam seus cordéis
Usando temas diversos
Na composição dos versos,
Foram grandes menestréis.

O poeta popular
Era a voz do próprio povo
Quando havia um fato novo
Discutido e comentado.
Lançavam mão de uma pena
Pra documentar a cena
Em versos metrificados.

Ariano Suassuna
Estudioso do assunto
Classificou o conjunto
Como "Ciclos Categóricos":
Heróico, Maravilhoso,
Satírico, Religioso,
E finalmente o Histórico.

Sou amante das palavras,
No seu poder acredito.
De tudo o que tenho escrito
Nos últimos trinta anos,
Esta obra, certamente,
Será o maior presente
Que deixarei aos humanos.

Uma vez disse a mim mesmo:
Se eu for escritor um dia
Vou escrever poesia
Sob a forma de cordel
E no meu primeiro livro
Farei do cordel "o crivo".
Da idéia pro papel.

E cumprindo essa promessa
Serei mais um cordelista,
E qualquer ponto de vista
Ou assuntos relatados.
Tudo será, doravante,
Em septilha constante
Tendo seis versos rimados.