A Garganta da Serpente
Cobra Cordel literatura de cordel
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O livro

(Alfred' Moraes)

LIVRO tem orelha e capa
Tem prelúdio e tem prefácio,
Ler ou entender é fácil,
Pra escrevê-lo é difícil.
A Bíblia é o maior tesouro
Escrita, em rolos de couro,
Pelos escribas de ofício.

Foi Johannes Gutenberg
Um inventor alemão
Que desenvolveu a técnica
E a máquina de impressão
Simplificando o processo.
Foi um tremendo sucesso
Essa importante invenção.

Já existia o papel,
Que fora invenção chinesa,
Fazer tinta era moleza,
Gutenberg já sabia.
Pra inaugurar o processo
Só faltava o livro impresso
Coisa que não tardaria.

Escolheu-se então a Bíblia
Pela sua relevância
E também a circunstância
Daquele momento histórico.
Dilvulgar-se-ía a crença,
Inaugurava-se a prensa.
Quem não ficaria eufórico?

São chamados de incunábulos
As primeiras impressões,
Muitas dessas edições
São relíquias literárias
Cujo valor vai além
Do assunto que contém,
Dizem as bibliotecárias.

Entre os livros de papel
E os antigos pergaminhos
Existe um longo caminho
Que a mão do tempo traçou.
Dos volumes atuais
Já temos os virtuais
Papel do computador.

Todas as experiências
De vida do ser humano,
Sendo produto de um plano
Ou simples fruto do acaso,
De alguma forma estará
Registrada pra nos dá
Referências sobre o caso.

Compêndios e Coletâneas
Enciclopédias, Tratados,
São informes registrados
Sobre assuntos diversos.
Que ficam à disposição
Para qualquer cidadão.
Pesquisar, nesse universo.

É a fonte inesgotável
Do conhecimento humano,
Religiosos, profanos,
De puras filosofias,
De provérbios, de memórias,
De geografia, de histórias,
De contos e poesias.

Nos livros temos registros
Dos passos da humanidade
Da remota antiguidade,
Aos tempos medievais,
Do chamado iluminismo
A ponte sobre o abismo
Para os tempos atuais.

Dos animais do planeta
O homem é o mais criativo
Tem cérebro sempre ativo
A remoer pensamentos,
Não determina limite
Jamais, na vida admite,
Desistir de seus intentos.

Mantém relação diária
Com muitos dos semelhantes,
E tem ligações constantes
Com o meio em que respira.
Pratica esporte, ler livros,
Tem raciocínio, ativo,
Pras informações que tira.

São as leituras dos livros
Que nos enchem de cultura
E em qualquer conjuntura
Político-social,
É o melhor instrumento
Para o fortalecimento
Da crença, num ideal.

O livro é a tradução
Do homem e suas vontades,
Das mentiras e verdades
Que permeiam a existência,
É a projeção dos sonhos,
Fantasias dos neurônios,
Produto da inteligência.

Os livros falam de tudo
Do que hoje conhecemos,
As informações que temos
Neles, estão compiladas.
É assim que a humanidade
Deixa pra posteridade
Experiências passadas.

Os Quatro Cantos da Terra,
Os Sete Mares do Mundo,
Um Continente no Fundo,
O Enigma da Vida,
São temas de livros raros
Que às vezes, por serem caros,
Mofam em estantes esquecidas.

Livros que falam da bolsa
De valores e seus leilões,
De fortunas, em ações,
Negociadas em lotes,
Falam que nesses negócios
O mais esperto dos sócios
É passível de calotes.

Livros que da falam herança,
Do herdeiro e da partilha,
Do dote, que levam as filhas,
Pra noivo que não merece.
Livros que falam de castas
Onde o pobre não se abasta
E o rico não empobrece.

Livros que falam do couro,
Matéria prima importante,
Vestiu príncipes galantes
E simplórios camponeses.
O couro de jacaré
Virou bolsa de mulher
E sapato de burgueses.

Livros que falam das uvas,
Do bom vinho e do vinagre,
Do champagne, que se abre,
Na noite do revellyon,
Falam que o dia seguinte
Todo o glamour e o requinte
Viram marcas de batom.

Livros que falam do azeite
Das olivas portuguesas,
Da cevada e das cervejas,
Do malte e do bom scot,
Que falam do rum de Cuba,
Da pinga de Abaetetuba,
E do mel de cana no pote.

Livros que falam da farra,
Da seresta e do farrista,
Da dama e do colunista,
Do tablóide e do jornal,
Do malandro de cartola
Que só freqüenta escola
De samba, no carnaval.

A cervejinha gelada
Da sexta-feira indigesta,
Regada a samba e seresta
No bar da próxima esquina,
Virou coqueluche urbana,
Imaginem quanta grana
Vira, tão somente, urina.

Outros preferem, porém,
Ir jantar em restaurantes
As iguarias picantes
Como: o frango ao salpicão,
Filé ao molho madeira,
Costeleta assada inteira
E suflê de camarão.

No interior dos bares
Com palcos e mezaninos,
Os delicados meninos,
São travestidos de damas.
O glamour dos holofotes,
Em close-up, em decotes,
E um "convite" pra fama.

Livros que falam das frutas
Como: a pêra e o kiwi,
Do saboroso açaí
Hoje de largo consumo.
Livros que falam daquelas
Irreparáveis seqüelas
Do alcoolismo e do fumo.

Livros que falam do leite,
Do pão de queijo de Minas,
Que falam das vitaminas,
Da soja e da levedura,
Que falam do mel de abelha
E do mal que a carne vermelha
Traz no teor de gordura.

Livros que falam do magro,
Do obeso e do sarado
Que tem o corpo talhado
Nas sessões de academia.
Livros que falam do zelo
Que devem ter as modelos
Ao ingerir calorias.

Livros que falam dos filmes,
Da invenção do cinema,
Do teatro e do esquema
De festivais glamourosos,
Das inesquecíveis cenas,
Dos autores e mecenas
E diretores famosos.

Livros que falam das chuvas
De confete e serpentinas
Nos tempos das colombinas
Pierrô e alerquim.
Livros que falam do luxo
Da fantasia de bruxo
Na festa do hallween.

Livros que falam da moda
Da arte do bem vestir,
Que falam da Naomi
E da gaúcha Gisele,
O glamour das passarelas
Obriga que todas elas
Só tenham um rosto, osso e pele.

Livros que falam das horas
Dos relógios e seus ponteiros,
Que falam dos seresteiros
Vagando na madrugada.
Livros que falam do sono,
Do lutador sem quimono
Dormindo sobre a calçada.

Livros que falam dos jogos
De xadrez porrinha e dama,
Naquele, o russo tem fama,
Pratica desde menino.
Tem jogador de baralho
Que vende seus agasalhos
Pra estourar nos cassinos.

Livros que falam dos móveis
Coloniais e modernos,
Do charme, que nos invernos,
Tem um casaco de lã,
Um suéter de veludo,
Um escuro, sobretudo,
No encosto do divã.
O casaco de visom
E o colar de diamantes,
Que os abastados amantes,
Presenteiam mulher pobre
Podem virar bumerangues
E voltar, banhado em sangue,
Quando o marido descobre.

Livro que falam do COOPER
Para manter a boa forma,
Muita gente tem, por norma,
Caminhar diariamente.
Dentre as urbanomanias
A queima de calorias
É o carma de muita gente.

Livros que falam das ruas
Das ruelas e dos guetos,
Que falam dos amuletos
Pendurados em correntes.
Livros que falam das gangues
Que estão derramando sangue
De jovens adolescentes.

Livros que falam da ginga
Do mestre de capoeira
Arte afro-brasileira
Mistura de dança e luta,
Que falam do berimbau
Um instrumento de pau
Que dá ritmo à disputa.

Livros que falam do vidro,
Do papiro e do papel,
Da cartola e do chapéu,
Do lenço e do suspensório,
Da bengala e da muleta,
Da gravata borboleta
Um elegante assessório.

Livros que falam da régua,
Do caderno e da caneta,
Do tênis da camiseta,
Da lousa e do pó de giz,
Falam da sala de aula
Que mais parece uma jaula
Pro repetente infeliz.

Livros que falam dos sinos
Que dobram nas catedrais,
Dos coloridos vitrais
Com motivos sacrossantos.
Livros que falam do dote
Da mitra do sacerdote,
E da vida simples dos santos.

Livros que falam das praças,
Dos monumentos urbanos,
Falam dos aeroplanos,
Do metrô e do trem bala.
Livros que falam dos autos
Ceifando vidas no asfalto
Numa preocupante escala.

Falam também de pessoas
Que vivem no anonimato
Parecem bicho do mato
Não sabem ser solidárias,
É outra mania urbana
Que torna a pessoa humana
Tristonha e solitária.

Livros que falam da escória
De nossa sociedade
E dos esforços debalde
Para a inclusão social.
Livros que falam da elite
Que ainda não admite
Que todo mundo é igual.

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