A Garganta da Serpente
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Somos Índios...

(Catia Cernov)

Parte I - O Colonialismo

Somos índios...
Vivemos tranqüilos em nossas cabanas.
Não mexemos com os outros...
E nem importunamos a vida de ninguém.

Estamos limpando a caça do dia...
Muito contentes com nosso deus Tupã!
Felizes com o jantar saboroso que sairá nessa noite...
E, principalmente, porque hoje haverá casamento!

Mas eis que apareceram uns caras pálidas filhos da mãe...
E estragam a nossa festa!
Surgiram numas canoas esquisitas e muito grandes...
Nos embrenhamos no mato e ficamos espionando aquilo!

Somos índios... e vimos as Caravelas de Cabral
Não temos idéia do que significa aquilo!
Ao mesmo tempo que sentimos medo...
Também achamos que pode ser coisa do Velho Tupã!

Mas eu logo vi... Encrenca!
Justo no dia do meu casamento?
Estava doido por mulher...
E me aparecem esses empatas!

Corremos para nossa Base Verde
Decidimos que vamos atacar com algumas caras feias
Fomos até a praia e encaramos o provável invasor
Mas vimos, logo de cara, que eram bem maiores.

Não deu certo...
Os inimigos não tinham cara feia
Mas tinham uns equipamentos esquisitos nas mãos
Que soltava fogo e nos deixou apavorados.
Recuamos!

Somos índios... e ouvimos os tiros.
Não temos a mínima idéia do que significa aquilo!
Não compreendemos o sentido da fúria.
Se é sinal de guerra ou enviados pelos deuses
De repente eles queriam apenas oferendas!

Mas eu logo pensei... Domínio!
Por que sempre tem que existir uns caras
Que se acham melhores e querem nos dominar?
Que direito têm eles de invadir nosso território?

Sentei próximo a fogueira e encarei o chegado do Homem:
Por que, Pajé? Por que é assim?!
Mas ele não sabia me responder
E o jeito foi dormir sem saber.

Mas somos os índios da Base Verde ...bravos guerreiros!
E não vamos nos entregar tão fácil assim.
Decidimos que vamos lutar, até a morte se for preciso!
Então armamos nossas flechas.

Também não deu certo...
Os caras resolveram não lutar. Pelo contrário!
Nos trouxeram presentes...dá pra acreditar?
Talvez os deuses queriam apenas oferendas.

E como somos índios...
Não temos idéia do que aquilo representa. Acreditamos!
Eram coisas ridículas e inúteis
E nós, bestas, aceitamos!

Mas desconfiamos... Barganha!
Aposto como eles também vão querer presentes!
E como não tínhamos nada de tão engraçado como aqueles espelhos...
Nós oferecemos um banquete de peixe, mandioca e farinha.
Fazer o quê?

E, de fato, eles não gostaram.
Elogiaram mas, logo de manhã, saíram vasculhando a área
A procura de algo bem mais interessante que a farinha.
Desenharam mapas e marcaram os lugares como se fossem seus!
Será que os deuses ainda estavam com fome?

Ficamos indignados... Invasor!
Estão estudando o nosso território, bem debaixo de nossos narizes.
Então deu pra perceber que eles queriam
Bem mais do que jantares exóticos!

Nós índios... voltamos a Base Verde
Achamos que eles olham muito esquisito para nossas índias.
Que eles acham nosso jeito de viver ridículo.
E querem que sejamos iguais a eles.

Ah! Mas isso não vai ficar assim!
Decidimos questionar as intenções dos inimigos
Para depois negociar com eles.
Mas eles não responderam e nos ameaçaram com seus paus de fogo!

E o jeito foi nós calarmos a boca!
Mas não desistimos...
Resolvemos sabotar o Camões deles.
Fomos lá e escondemos as embarcações menores, que levavam a Canoa-Mãe.

Impedidos de carregarem nossas coisas para sua Base Flutuante
Eles ficaram furiosos e nos perseguiram.
Sabiam que não podiam nos pegar na mata, então atiraram fogo.
Massacraram nosso povo...

Por causa daquilo meu casamento foi, de novo, adiado ...
E a índia é tão gostosa que eu não consigo pensar em outra coisa!
Ela é de uma aldeia vizinha, e conforme a cultura de meus ancestrais
Eu não deveria vê-la antes do casório...
Mas é claro que fui até lá espioná-la, antes de aceitar a proposta!

Mas como somos índios...
Não percebemos que, devagar, ele foram depredando nossas terras.
Não entendemos porque ficaram tão radiantes
Diante daquelas pedras inúteis e tão brilhantes.

Aí observamos... Que História mal escrita!
Os panacas inventam umas embarcações jóias
Sofrem as tormentas do mar para chegarem ao paraíso
E ficam deslumbrados com pedras bestas? Quem entende?

De volta a Base Verde...
Nós índios notamos que ele estão levando nossos tesouros
Não só as pedras bestas... mas nossa união e respeito.
E, junto, estão carregando nossas índias.
Que aproveitadores!

Então decidimos que não vamos nos entregar
E resolvemos estudar o território do inimigo!
Remamos até a Base Flutuante
Mas demos de cara com equipamentos maiores
Que soltaram fogo, ainda mais poderosos, de suas bocas de ferro.

Nos ferramos...
Remamos rápidos de volta e revemos nossas estratégias!
Mas não é que eles nos fecharam o cerco?
Conquistaram toda a atenção da Aldeia e se impuseram como deuses?!

Mas como índios... tínhamos a ingenuidade.
Não enxergamos que aqueles deuses queriam nos comprar!
E cedemos as nossas pedras e as nossas origens
E, logrados em nossa fé, entregamos nosso destino!

Aí os caras entraram numa que deveríamos rezar igual a eles
E nos apresentaram um Deus, que também tinha o nome com quatro letras!
Não parecia fazer muita diferença... (Deus, Buda, Tupã, Alah)
Mas eles cismaram que o deles era melhor!
Que crise!

E lá vai nós aprendermos a língua deles,
Seguirmos os costumes deles.
Pensarmos como eles,
Pecarmos como eles...
E matarmos como eles.

Nunca antes conhecemos a cobiça e a vaidade
Nem sabíamos o que era ambição e luxúria.
Mas como eles disseram que o mundo funcionava assim
Nós, índios... Acreditamos e aceitamos!

Impuseram mais que sua língua e sua miscigenação!
Levaram minha índia bonita e gostosa...
E eu fiquei na mão...
Suspirando de desejos e paixão!

Louco de saudades de uma cabana solitária
Só eu e ela, deitados numa rede...
Um riacho para tomarmos banho sob a luz do luar...
Depois do amor e da almejada concepção!

Eu só queria um filho para ensinar a caçar e pescar...
Fazer a previsão do tempo sem máquinas complicadas!
Mas eles vieram...
E carregaram, também, nossos sonhos!

E, não satisfeitos, os caras ainda acharam que deveríamos produzir...
Até aí tudo bem!
Mas não explicaram que deveríamos trabalhar para produzir...
Os frutos que ficariam nas mãos deles!
E que pagaríamos impostos pela nossa miséria.

E nós, índios, que sequer temos noção de demanda, concordamos.
Aprendemos, a força, a plantar e a colher em maior escala
Matar e demarcar terras, fazer mais inimigos
E rezar para um deus que não compreendíamos...

Todos eles eram muito estranhos...
Eles devastaram a floresta, cheia de frutos...
E tudo isso para semear mais alimentos!
Quem consegue entender uma coisa dessas?!

Mas nós, índios, obedecemos...
Porque eles disseram que são melhores e os sabe-tudos!
E como não entendemos nada de mercantilismo ou balança comercial
Nos designamos sem compreender!

Mas a Base Verde nos espera...
E conseguimos captar que eles já nos dominaram
Mas mesmo assim, resolvemos lutar sem tréguas
E não entregar a nossa Aldeia.

Então nos escravizaram...
Nos acorrentaram e nos levaram.
Nos castigaram...
Pelo simples motivo de querermos só levar nossas vidas.

Aí eu pensei ... Exploração!
Por que sempre tem que existir um mais forte
Para dominar o mais fraco que mal sabe o que está acontecendo?
Procurei o Pajé, mas ele se escondeu...
Desconhecia tais respostas!

Nos cegaram, convencendo que sua civilização era superior
E que não temos direitos porque somos pagões.
Que os interesses da Metrópole estavam acima de Tupã
E os deuses-reis precisavam de nossa força-trabalho

Mas na Base Verde pensamos ao contrário...
Que aquilo tudo era uma grande besteira!
Somos felizes... como índios! E daí?!
Que importa essa coisa de produzir, não destruímos!

Fomos a luta...
Protestamos contra a perda da dignidade humana.
Rogamos por nossas terras de volta
Levantamos nosso direito a vida e a comida!

Mas eles não estavam nem aí...
Nos prometem um espaço em sua sociedade
Nos incluíram em suas leis absurdas e esquisitas e... o que fizeram?
Nos denominaram silvícolas num tal Código Civil!

Logo hoje! Que avistei uma linda índia indo buscar água no riacho!
Com seu pote de barro, ela debruçou-se sobre o espelho d'água...
Seu colar de sementes se soltou e foi levado pela correnteza...
E a ondulação da água me fez delirar!

Espero que ela aceite e atenda os meus anseios...
Porque já estou começando a achar...
A sexagenária esposa do Pajé até bonitinha!
Péssimo sinal! Meu Deus-Tupã! Preciso de uma mulher!

O final desta história é que ... insistimos na nossa luta!
E eu fiquei sem mulher...

Mas, para calar as nossas bocas, os índios da Base Verde
Fomos escolhidos para conhecer os outros mundos.
Seguimos na Base Flutuante até terras desconhecidas ...

E eu achava que iria encontrar uma civilização superior...
Lá seus deuses falavam da multiplicação do pão;
Mas suas leis multiplicavam os famintos.

 

Ainda Somos Índios...

Parte II - Neo- Colonialismo

Ainda somos índios...
Vivemos tranqüilos em nossos barracos
Não mexemos com os outros
E nem importunamos a vida de ninguém.

Estamos catando os restos da feira do dia..
Felizes com a lata que ferve macarrão e batata nessa noite!
Muito contentes porque nem sempre temos esse privilégio...
E, principalmente, porque hoje não teve tiroteio no morro!

Mas eis que apareceram uns caras fardados filhas da mãe...
E estragam a nossa festa!
Surgiram numas patrulhas esquisitas e cheias de luzes piscantes...
Nos embrenhamos no Gueto e ficamos espionando aquilo.

Ainda somos índios... e vimos as Caravelas da Globalização
Mas já sabemos o que significa aquilo!
Ao mesmo tempo que sentimos medo
Também achamos que eles não vão nos prender!

Mas eu logo vi... Encrenca!
Logo no dia em que a Teresa topou tomar uma cerveja comigo?
Estava doido por mulher...
E me aparecem essas autoridades!

Corremos para nossa Base Suburbana
Decidimos que vamos atacar com algumas caras feias
Fomos até a Candelária e encaramos o território hostil
Mas vimos, logo de cara, que eram bem maiores.

Não deu certo...
Embora os inimigos tivessem cara feia
Também tinham uns equipamentos melhores que o nosso
Que soltava fogo e nos deixou encurralados.
Ah! Mas um dos nossos conseguiu escapar!

Somos ainda índios... e ouvimos os tiros.
Temos idéia do que significa aquilo!
Que é fogo dos homens dominadores
Que é sinal de guerra.
Compreendemos e fomos a luta

Mas eu logo pensei... Exterminadores!
Por que sempre tem que existir uns caras
Que se acham melhores e querem nos molestar?
Que direito têm eles de invadir nosso Quilombo?

Sentei no meu Opala e encarei o chegado do homem:
Por que, Henry Ford? Por que é assim?!
Mas o motor não sabia me responder
E o jeito foi fugir sem saber.

Mas somos os índios da Base Suburbana ... bravos guerreiros!
E não vamos nos entregar tão fácil assim.
Decidimos que vamos lutar, até a morte se for preciso!
Então armamos nossos 38.

Também não deu certo...
Os caras resolveram não lutar.Pelo contrário!
Nos trouxeram promessas.Dá pra acreditar?
Novos deuses vinham nos salvar da miséria.

E como continuamos a ser índios...
Ainda não temos tanta idéia do que aquilo representa. Acreditamos!
Eram santinhos e camisetas de clube de futebol...
E nós, bestas, aceitamos!

Mas eu desconfiei... Barganha!
Aposto como eles também vão querer algo em troca!
E como não tínhamos nada de melhor como aquelas cestas básicas
Nós oferecemos o voto em troca do benefício.
Fazer o quê?

E, de fato, eles não gostaram.
Não ganharam as eleições e, logo de manhã saíram vasculhando a área
A procura de algo bem mais interessante que urnas eletrônicas
Desenharam estatísticas e pesquisas nuns gráficos engraçados!
Será que os deuses tinham fome de números?

Nós já ficamos indignados... Corruptor!
Estão estudando o nosso território, bem debaixo de nossos narizes.
Então deu pra perceber que eles queriam
Bem mais do que lobbys e "Capitalismo de Compadres"!

Voltamos a Base Suburbana!
Achamos que eles olham muito esquisito para nossas minas...
Que eles acham que elas valem uma boa grana...
E lhes darão lucros no tráfego internacional da prostituição infantil!

Ah! Mas isso não vai ficar assim!
Decidimos questionar as intenções dos inimigos
Para depois negociar com eles.
Mas eles não nos responderam nos ameaçaram com os porões das delegacias.

E o jeito foi nós calarrmos a boca!
Mas não desistimos...
Resolvemos sabotar os camburões deles.
Fomos lá e furamos os pneus das patrulhas.

Impedidos de carregarem nossos manos para sua Base Bangu II
Eles ficaram furiosos e nos perseguiram.
Sabiam que não podiam nos pegar nas quebradas e atiraram
E o massacre foi Vigário Geral...

Por causa daquilo a gostosa da Teresa não me esperou
E o baile funk prosseguiu com ela e sem mim!
Ela é da favela vizinha, seu irmão é olheiro da boca do Curió
E, conforme as leis do morro, eu não deveria me meter com ela
Mas, é claro, que os boqueiros de cá foram juntos para me dar cobertura!

Mas como continuamos a ser índios...
Não percebemos que, devagar, eles foram monopolizando nossas mentes.
Não entendemos porque ficaram tão radiantes
Diante da imposição de seu idioma e sua cultura fast-food

Aí observamos... Que História mal escrita!
Os panacas inventam umas propagandas jóias
Sofreram as tormentas do mercado de risco para chegarem aqui
E ficam deslumbrados com gráficos de vendas de refrigerantes? Quem entende?

De volta a Base Suburbana
Nós índios notamos que eles estão levando nossos tesouros
Não só os manufaturados sem as etiquetas... mas nossa língua e união.
E, junto, estão carregando nossas meninas de tranças.
Que aproveitadores!

Então decidimos que não vamos nos entregar
E resolvemos estudar o território do inimigo!
Descemos para o asfalto, rumo a Base Ianque
Mas demos de cara com câmeras maiores
Tocavam um Rap ainda mais poderoso, de suas letras Hollywood.

Nos ferramos...
Voltamos rápidos de volta e revemos nossas estratégias!
Mas não é que eles nos fecharam o cerco?
Conquistaram toda a atenção do mundo e se impuseram como deuses?!

Mas como índios... ainda temos a ingenuidade!
Não enxergamos que aqueles deuses queriam nos comprar!
E cedemos as nossas virtudes e nossos sentidos
E, na cegueira urbana, entregamos nosso quintal!

Aí os caras entraram numa que deveríamos agir igual a eles...
E nos apresentaram um deus, que tinha o nome com cinco letras!
E não com quatro como pensávamos antes...
Dólar!
Que crise!

E lá vai nós, tudo de novo, aprendermos a língua deles,
Seguirmos os costumes deles.
Pensarmos como eles,
Pecarmos como eles...
Matarmos como eles.

Nunca antes conhecemos que a Barbie era melhor de todas.
Nem sabíamos que comer hambúrguer nos fariam mais espertos
Mas como eles disseram que o mundo era Mac/feliz assim...
Nós, índios... Acreditamos e aceitamos!

Impuseram mais que sua língua, mas sua superioridade falsa.
Levaram minha Teresa para desfilar como objeto de desejo
Eu fiquei na mão...
Suspirando de desejos e paixão!

Louco de saudades de um puxadinho no barraco da Rocinha.
Só eu e ela, deitados no colchão de molas velho
O Teitê para tomarmos banho sob a luz poluída do luar...
Depois do amor, a esperança que a camisinha não tenha furado!

Eu só queria um telhado de zinco para morar. Feijão, farinha...
Amar a Teresa, fazer-lhe um filho, um trampo bom...
Mas eles vieram...
E carregaram, também, nossos sonhos!

E, não satisfeitos, os caras ainda acharam que deveríamos assinar um ALCordo
Até aí tudo bem!
Mas não explicaram que deveríamos trabalhar para produzir
Os lucros e dividendos que ficariam nas mãos deles!
E pagaríamos royalties pela nossa miséria.

E nós, índios, que sequer temos noção de Mercado Livre, concordamos.
Aprendemos, a força, a se virar vendendo chicletes no sinal vermelho...
Parangas nas bocas e laranjas descascadas nas rodoviárias...
Mas não deu, e os zome do estrangeiro combateram o Mercado Informal.

Mas havia algo de estranho naquilo...
Eles devastaram uma floresta cheia de recursos...
E tudo para nos cobrar, mais tarde, que não cuidamos de nossa biodiversidade!
Quem consegue entender uma coisa dessas?!

Mas nós, ainda índios, obedecemos...
Porque eles disseram que são melhores e os sabe-tudos!
E como não entendemos nada de Globalização e Neoliberalismo
Nos designamos sem compreender!

Mas a Base Suburbana nos espera...
E conseguimos captar que eles já nos subjulgaram
Mas mesmo assim, resolvemos lutar sem tréguas
E não entregar a nossa Comunidade.

Então nos escravizaram...
Meus amigos se tornaram traficantes.
Outros, assaltantes ...
E, o último, sob liberdade condicional, não pode mais lutar.

Aí eu pensei ... Exploração!
Como podem fazer de minha cultura um Capital,
Para comprar o mais fraco que nem sabe o porquê?
Procurei meu Opalão, mas o encontrei no cemitério de automóveis
Foi leiloado como comportamento ultrapassado!

Nos cegaram, convencendo que sua civilização era superior...
E que não temos direitos porque somos atrasados!
Mas não fomos nós que furamos a camada de ozônio...
E nem derretemos os pólos, onde agora as focas agonizam!

Mas na Base Suburbana pensamos ao contrário...
Que tudo isso é uma ALCA, uma grande mentira!
Somos felizes... como índios! E daí?!
Não queremos mais produzir para os outros... Não destruímos!

Fomos a luta...
Protestamos contra a perda do trabalho.
Rogamos por nossas terras de volta...
Levantamos nosso direito a vida e a comida!

Mas eles não estão nem aí...
Nos prometem um espaço em sua sociedade.
Nos incluíram em suas leis absurdas e esquisitas e... o que fizeram?
Nos denominaram Terceiro Mundo na geopolítica internacional!

Logo hoje! Que avistei uma reunião de cúpula do G-8!
Com seus portes de ferro, pensam que são mais fortes...
Mas seus colares de medalhas foram levados pela correnteza...
E a turbulência da água me fez rir!

Espero que eles aceitem que também são homens, imagens e semelhanças...
Porque já estou começando a achar...
Que o circo de papel vai ser molhado pela tempestade!
Péssimo sinal! Meu deu$/Trade...! Preciso de uma consciência!

O fim dessa história é que... insistimos na nossa luta!
E eu fiquei sem mulher...

Mas, para calar as nossas bocas, os índios da Base Suburbana...
Fomos convidados a participar de um reality-show!
Ao vivo e em cadeia nacional ...

E eu achava que iria encontrar uma civilização superior...
Lá seus monumentos celebravam a liberdade;
Mas sua ciência gerava mais escravidão.

(Floresta Amazônica, 22 de novembro 2005)

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