Base V: Das vogais átonas
1º) O emprego do e e do i, assim como o do o e do
u, em sílaba átona, regula-se fundamentalmente pela etimologia
e por particularidades da história das palavras. Assim se estabelecem
variadíssimas grafias:
a) Com e e i: ameaça, amealhar, antecipar, arrepiar,
balnear, boreal, campeão, cardeal (prelado, ave planta; diferente
de cardial = "relativo à cárdia"), Ceará,
côdea, enseada, enteado, Floreal, janeanes, lêndea, Leonardo, Leonel,
Leonor, Leopoldo, Leote, linear, meão, melhor, nomear, peanha, quase
(em vez de quási), real, semear, semelhante, várzea;
ameixial, Ameixieira, amial, amieiro, arrieiro, artilharia, capitânia,
cordial (adjetivo e substantivo), corriola, crânio, criar, diante,
diminuir, Dinis, ferregial, Filinto, Filipe (e identicamente Filipa,
Filipinas, etc.), freixial, giesta, Idanha, igual, imiscuir-se, inigualável,
lampião, limiar, Lumiar, lumieiro, pátio, pior, tigela, tijolo,
Vimieiro, Vimioso;
b) Com o e u: abolir, Alpendorada, assolar, borboleta, cobiça,
consoada, consoar, costume, díscolo, êmbolo, engolir, epístola,
esbaforir-se, esboroar, farândola, femoral, Freixoeira, girândola,
goela, jocoso, mágoa, névoa, nódoa, óbolo, Páscoa,
Pascoal, Pascoela, polir, Rodolfo, távoa, tavoada, távola, tômbola,
veio (substantivo e forma do verbo vir); açular, água,
aluvião, arcuense, assumir, bulir, camândulas, curtir, curtume,
embutir, entupir, fémur/fêmur, fístula, glândula,
ínsua, jucundo, légua, Luanda, lucubração, lugar,
mangual, Manuel, míngua, Nicarágua, pontual, régua, tábua,
tabuada, tabuleta, trégua, virtualha.
2º) Sendo muito variadas as condições etimológicas
e histórico-fonéticas em que se fixam graficamente e e
i ou o e u em sílaba átona, é evidente
que só a consulta dos vocabulários ou dicionários pode
indicar, muitas vezes, se deve empregar-se e ou i, se o
ou u. Há, todavia, alguns casos em que o uso dessas vogais pode
ser facilmente sistematizado. Convém fixar os seguintes:
a) Escrevem-se com e, e não com i, antes da sílaba
tónica/tônica, os substantivos e adjetivos que procedem de substantivos
terminados em - eio e - eia, ou com eles estão em relação
direta.Assim se regulam: aldeão, aldeola, aldeota por aldeia; areal,
areeiro, areento, Areosa por areia ; aveal por aveia;
baleal por baleia; cadeado por cadeia; candeeiro
por candeia; centeeira e centeeiro por centeio;
colmeal e colmeeiro por colmeia; correada e correame
por correia .
b) Escrevem-se igualmente com e, antes de vogal ou ditongo da sílaba
tónica/tônica, os derivados de palavras que terminam em e
acentuado (o qual pode representar um antigo hiato: ea, ee): galeão,
galeota, galeote, de galé; coreano , de Coreia
; daomeano, de Daomé; guineense, de Guiné;
poleame e poleeiro , de polé.
c) Escrevem-se com i, e não com e, antes da sílaba
tónica/tônica, os adjetivos e substantivos derivados em que entram
os sufixos mistos de formação vernácula - iano e
-iense, os quais são o resultado da combinação dos
sufixos -ano e -ense com um i de origem analógica
(baseado em palavras onde -ano e -ense estão precedidos
de i pertencente ao tema: horaciano, italiano, duriense, flaviense,
etc.): açoriano, acriano (de Acre ), camoniano,
goisiano (relativo a Damião de Góis), siniense
(de Sines), sofocliano, torriano, torriense (de Torre (
s) ).
d) Uniformizam-se com as terminações -io e -ia (átonas),
em vez de -eo e -ea, os substantivos que constituem variações,
obtidas por ampliação, de outros substantivos terminados em vogal:
cúmio (popular), de cume; hástia, de haste;
réstia, do antigo reste ; véstia, de veste.
e) Os verbos em -ear podem distinguir-se praticamente, grande número
de vezes, dos verbos em -iar, quer pela formação, quer
pela conjugação e formação ao mesmo tempo. Estão
no primeiro caso todos os verbos que se prendem a substantivos em -eio
ou -eia (sejam formados em português ou venham já do latim);
assim se regulam: aldear, por aldeia; alhear, alheio;
cear, por ceia; encadear, por cadeia; pear,
por peia; etc. Estão no segundo caso todos os verbos que têm
normalmente flexões rizotónicas/rizotônicas em -eio,
-eias, etc.: clarear, delinear, devanear, falsear, granjear, guerrear,
hastear, nomear, semear, etc. Existem, no entanto, verbos em -iar,
ligados a substantivos com as terminações átonas -ia
ou -io, que admitem variantes na conjugação: negoceio
ou negocio (cf. negócio); premeio ou premio
(cf. prémio/prêmio); etc.
f) Não é lícito o emprego do u final átono
em palavras de origem latina. Escreve-se, por isso: moto, em vez de mótu
(por exemplo, na expressão de moto próprio); tribo, em
vez de tríbu.
g) Os verbos em -oar distinguem-se praticamente dos verbos em -uar
pela sua conjugação nas formas rizotónicas/rizotônicas,
que têm sempre o na sílaba acentuada: abençoar
com o, como abençoo, abençoas, etc.; destoar,
com o, como destoo, destoas, etc.: mas acentuar,
com u, como acentuo, acentuas, etc.
Base VI: Das vogais nasais
Na representação das vogais nasais devem observar-se os seguintes
preceitos:
1º) Quando uma vogal nasal ocorre em fim de palavra, ou em fim de elemento
seguido de hífen, representa-se a nasalidade pelo til, se essa vogal
é de timbre a; por m, se possui qualquer outro timbre e
termina a palavra; e por n, se é de timbre diverso de a
e está seguida de s: afã, grã, Grã- Bretanha
, lã, órfã, sã- braseiro (forma dialetal; o
mesmo que são-brasense = de S. Brás de Alportel);
clarim, tom, vacum; flautins, semitons, zunzuns.
2º) Os vocábulos terminados em -ã transmitem esta
representação do a nasal aos advérbios em -mente
que deles se formem, assim como a derivados em que entrem sufixos iniciados
por z: cristãmente, irmãmente, sãmente; lãzudo,
maçãzita, manhãzinha, romãzeira.