Base XVIII: Do apóstrofo
1º) São os seguintes os casos de emprego do apóstrofo:
a) Faz-se uso do apóstrofo para cindir graficamente uma contração
ou aglutinação vocabular, quando um elemento ou fração
respectiva pertence propriamente a um conjunto vocabular distinto: d' Os
Lusíadas, d' Os Sertões; n' Os Lusíadas, n' Os Sertões;
pel' Os Lusíadas, pel' Os Sertões. Nada obsta, contudo, a
que estas escritas sejam substituídas por empregos de preposições
íntegras, se o exigir razão especial de clareza, expressividade
ou ênfase: de Os Lusíadas, em Os Lusíadas, por Os Lusíadas,
etc.
As cisões indicadas são análogas às dissoluções
gráficas que se fazem, embora sem emprego do apóstrofo, em combinações
da preposição a com palavras pertencentes a conjuntos vocabulares
imediatos: a A Relíquia, a Os Lusíadas (exemplos: importância
atribuída a A Relíquia; recorro a Os Lusíadas). Em
tais casos, como é óbvio, entende-se que a dissolução
gráfica nunca impede na leitura a combinação fonética:
a A = à, a Os = aos, etc.
b) Pode cindir-se por meio do apóstrofo uma contração ou
aglutinação vocabular, quando um elemento ou fração
respectiva é forma pronominal e se lhe quer dar realce com o uso de maiúscula:
d'Ele, n'Ele, d'Aquele, n'Aquele, d'O, n'O, pel'O, m'O, t'O, lh'O, casos
em que a segunda parte, forma masculina, é aplicável a Deus,
a Jesus, etc.; d'Ela, n'Ela, d'Aquela, d'A, n'A, pel'A, m'A, t'A, lh'A,
casos em que a segunda parte, forma feminina, é aplicável à
mãe de Jesus, à Providência, etc. Exemplos frásicos:
confiamos n'O que nos salvou; esse milagre revelou-m'O; está n'Ela
a nossa esperança; pugnemos pel'A que é nossa padroeira.
À semelhança das cisões indicadas, pode dissolver-se graficamente,
posto que sem uso do apóstrofo, uma combinação da preposição
a com uma forma pronominal realçada pela maiúscula: a O, a
Aquele, a Aquela (entendendo-se que a dissolução gráfica
nunca impede na leitura a combinação fonética: a O =
ao, a Aquela =àquela, etc.). Exemplos frásicos: a O que
tudo pode; a Aquela que nos protege.
c) Emprega-se o apóstrofo nas ligações das formas santo
e santa a nomes do hagiológio, quando importa representar a elisão
das vogais finais o e a: Sant'Ana, Sant'Iago, etc. É,
pois, correto escrever: Calçada de Sant'Ana, Rua de Sant'Ana; culto
de Sant'Iago, Ordem de Sant'Iago. Mas, se as ligações deste
gênero, como é o caso destas mesmas Sant'Ana e Sant'Iago,
se tornam perfeitas unidades mórficas, aglutinam-se os dois elementos:
Fulano de Santana, ilhéu de Santana, Santana de Parnaíba; Fulano
de Santiago, ilha de Santiago, Santiago do Cacém.
Em paralelo com a grafia Sant'Ana e congêneres, emprega-se também
o apóstrofo nas ligações de duas formas antroponímicas,
quando é necessário indicar que na primeira se elide um o final:
Nun'Álvares , Pedr'Eanes.
Note-se que nos casos referidos as escritas com apóstrofo, indicativas
de elisão, não impedem, de modo algum, as escritas sem apóstrofo:
Santa Ana, Nuno Álvares, Pedro Álvares, etc.
d) Emprega-se o apóstrofo para assinalar, no interior de certos compostos,
a elisão do e da preposição de, em combinação
com substantivos: borda-d'água, cobra-d'água, copo-d'água,
estrela-d'alva, galinha-d'água, mãe-d'água, pau-d'água,
pau-d'alho, pau-d'arco, pau-d'óleo.
2º) São os seguintes os casos em que não se usa o apóstrofo:
Não é admissível o uso do apóstrofo nas combinações
das preposições de e em com as formas do artigo definido,
com formas pronominais diversas e com formas adverbiais (excetuado o que se
estabelece nas alíneas 1º) a) e 1º) b)). Tais combinações
são representadas:
a) Por uma só forma vocabular, se constituem, de modo fixo, uniões
perfeitas:
i) do, da, dos, das; dele, dela, deles, delas; deste, desta, destes, destas,
disto; desse, dessa, desses, dessas, disso; daquele, daquela, daqueles, daquelas,
daquilo; destoutro, destoutra, destoutros, destoutras; dessoutro, dessoutra,
dessoutros, dessoutras; daqueloutro, daqueloutra, daqueloutros, daqueloutras;
daqui; daí; dali; dacolá; donde; dantes (= antigamente);
ii) no, na, nos, nas; nele, nela, neles, nelas; neste, nesta, nestes, nestas,
nisto; nesse, nessa, nesses, nessas, nisso; naquele, naquela, naqueles, naquelas,
naquilo; nestoutro, nestoutra, nestoutros, nestoutras; nessoutro, nessoutra,
nessoutros, nessoutras; naqueloutro, naqueloutra, naqueloutros, naqueloutras;
num, numa, nuns, numas; noutro , noutra, noutros , noutras, noutrem ; nalgum,
nalguma, nalguns, nalgumas, nalguém.
b) Por uma ou duas formas vocabulares, se não constituem, de modo fixo,
uniões perfeitas (apesar de serem correntes com esta feição
em algumas pronúncias): de um, de uma, de uns, de umas, ou dum, duma,
duns, dumas; de algum, de alguma, de alguns, de algumas, de alguém, de
algo, de algures, de alhures, ou dalgum, dalguma, dalguns, dalgumas, dalguém,
dalgo, dalgures, dalhures; de outro, de outra, de outros, de outras, de outrem,
de outrora, ou doutro, doutra, doutros, doutras, doutrem, doutrora; de aquém
ou daquém; de além ou dalém; de entre ou dentre .
De acordo com os exemplos deste último tipo, tanto se admite o uso da
locução adverbial de ora avante como do advérbio que representa
a contração dos seus três elementos: doravante.
Obs.: Quando a preposição de se combina com as formas articulares
ou pronominais o, a, os, as, ou com quaisquer pronomes ou advérbios
começados por vogal, mas acontece estarem essas palavras integradas em
construções de infinitivo, não se emprega o apóstrofo,
nem se funde a preposição com a forma imediata, escrevendo-se
estas duas separadamente: a fim de ele compreender; apesar de o não
ter visto; em virtude de os nossos pais serem bondosos; o fato de o conhecer;
por causa de aqui estares..