A Garganta da Serpente
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André Albuquerque

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DICOTOMIA

Fui, parti tarde.
Suicidei-me em gargalhada pavorosa.
Estilo gótico complicado que arde
Em minha incongruência dolorosa.
Morri e já nem sei mais se fui covarde,
Toda beleza da suposta vida graciosa,
Vasou lentamente como um pingo chato repetido.
Que oco, que eco, que icom, que meleca viscosa
Se tornou meu pensar, qual esgoto entupido.
Tudo era tão fácil, bom no verso, melhor na prosa,
Cresci para baixo, aprendi o erro, perdi o sentido.
Agora, morto, digo para mim, relaxa e goza.
Já vivi na prisão, na rua, no hospício;
Fui ermitão, cdf, subversivo e ladrão.
Trabalhei, pilatiei, hibernei, aprendi um ofíc-io;
Cheguei a guru, pensei que sim, mas era não.
Ferrado e mal pago, refleti no meu mal, meu vício.
Suicidei minha loucura, matei meu irmão.
Sempre soube que eu éramos dois.
Eu queria, eule me mandava, dominava.
Fiz todas as suas vontades, antes e depois,
Não importava se ia ou vinha, eule me ferrava.
Como me sinto leve, eule morri, culpados sois.
Confesso, não nego, pago depois, eu me amava.


(André Albuquerque)


voltar última atualização: 10/12/2001
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