Okavango
Enchi de lágrimas o rio
Numa expedição poética
Ao delta do Okavango.
Como sou qualquer poeta
Escondi minha dor
À sombra do baobá;
A mesma dor pungente
Dos bosquímanos férreos.
Não havia motivo de vingança
Em seus olhos alquebrados.
A vingança, essa ave desalmada
Sobre o delta a planar sozinha:
Sem princípios nem inspiração
Rechaçada pelo azul celestial
Que se espelhava no rio.
O amor era também assim:
Como um punhal africano
Encravado no tronco do baobá.
Fez-me este poema ao rio...
Mas não desfez de suas águas
O lasso dos bichos afogados.
Ainda, evapore a inspiração,
Que eu preserve o Okavango.
(Achel Tinoco)
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