A Garganta da Serpente

Adriano de Campos

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Deixe a vida

Vá longe mas não muito,
ame mas não se machuque.
Sonhe mas cuidado com o acordar,
não vá o seu coração rebentar.

O rasgo de tua ilusão pode não ter concerto,
vá por mim, pense duas vezes e de preferência não faça.
Desvie o olhar quando pela menina passar.
Tenha tento no descompasso do batimento.

Tape os ouvidos quando pela roda de samba passar,
não vá o pé descontrolar.
Não queiras por do sol ver e ai de tua razão,
se te abrir um céu estrelado num clarão.

Vá por mim, não queiras palmeiras à beira-mar,
nem morena dengosa para amar.
Em teu copo espero ver apenas água,
que te sacie a lucidez e perpetue tua placidez.

Vá por mim meu amigo,
não queimas a vida num pavio.
Sente o pesado torpor, que nos leva, como num navio.
Consegue emprego seguro, com direitos,
não te sujeites a levianos desrespeitos.
Mulher só para cozinhar e passear,
que não te traga muito pesar.
Dormir a boas horas e sem perturbação.

Vá por mim meu amigo,
deixa a vida num canto,
arranja-te na resignação
e entretente na ilusão.


(Adriano de Campos)


voltar última atualização: 10/03/2006
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