cheiro a tua orelha velha
no mais trágico e podre da janela
rente ao mistério
o clarão adversativo
erra pelo esquecimento
acumula-se em aranha
no circo das fendas sem importância
defenestração falhada
no peitoril de onde se avista
ausência e cerco
tem búzios quanto a várzea, é
aquele pó líquido da praia crepuscular,
azeite a acender o estremor,
o bom sensorial da viuvez
em futuro, estou aqui
o barco teria tantos nomes
que o nome que teria
era mesmos que o outro
da profunda piedade de imaginar
uma tragédia revolta
neurovegetativa no século de agora
mesmo quando vens
com olhos de fotografia
artística, preto e branco
eu reparo, nas solenes tabernas,
o odalisco design de um pescado,
furo de histórias e fantasias
para pescar o tempo,
o Desconhecido, a Mão de Olhos
que puxa o lençol sobre o corpo
não tenho língua de nina para o dormiço
apenas aquela lenda-lenda
atirar-te às orelhas as vigarices ternas
do Avô, do
Saído
não, pastora,
os peixes não dão leite
dão melhor,
são arcanos das tormentas enfeitatórias
das festas de morte,
onde reza o Actor a quem não se pede
a Catarse, deixa lá
a Relação,
o documento de vigia
não roas a loucura
nenhuma paixão minha
estilhaça os olhos teus, desdémona
actuante,
o espião torce, ilude
instala o texto onde se esvai
o teu líquido melhor:
rompura, atestado?
não, a estátua vai entrando
no mar
se afoga gradual e consciente
veneração do litoral
procuro o filho na mão livre
como começar o motivo
da pesca sem desejo de pescar?
Solto ainda Amor da Barra:
navego para o buraco do regresso
Aquele,
onde reconhecem as prebendas e os titulares
e a vela ufana
parece escolher um humano destino
aquele a quem chove, apesar da casa
aquele a quem não chove, apesar da rua
no ladrilho da memória, dizer
podemos noticiar essa albarda
essa impossibildade de omitir
estie lá e disse é difícil e não sei
não dizer os repeniques
as almas que vêm nos livros e vão
suar o desespero, o Ignoto
o latim que forjou o sagrado
que é só suspeita e só suspeita
pode ser.
onde é mais fácil abdicar
um som seco, eficaz.
(Poema do livro "Dá-me Com A Noite")
(Alberto Augusto Miranda)
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