A Garganta da Serpente

Alberto Augusto Miranda

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Morna

mais que o silêncio
a pedra,
clausura ao procurante

ninguém está aqui onde me vês!

encarnar o pai, destê-lo
tão mais próxima da boca imaginosa
é a palavra que o mata,
herança

dizer olha o nosso nome de nada

vem ó enluvada erotina
apalpar deus nas fissuras das pedras

como dizente:
chova de áfrica, de muita
nos escravos atados ao vinte,
os negócios, os cavalos do brasil

olha o nosso nome de nada
de onde veio de nada
para onde foi de nada

chova, menino, fica para além,
desta casa foge, na braba
só oiço paulino vieira gemer

aos grossos da possidónia
aos platinados das rampas
aos frutícolas de alcabideche

como um pico que fosse de almeirim
estivesse sem estar na esperança
de abrir o mundo devagar
com a certeza de estar enganado

no dé-di-cé do noivado
do corpo bonito zoando espírito

eu agacho a palavra pra cê passar
acima da semântica como nova

o pai desconsiderou você linda
encaixou em folha de livro sua novela
para exemplo - o nome veio
para foder o nome de onde veio

mãããããããããããããããããeeeeeeeeeeeeeiiiiiinha,
estertora, filha, abre a boca de morrer
como um charco, deixa errar,
só a ponta, mata, sou o antes,
não peças obscuras
sossega

(Poema do livro "Dá-me Com A Noite")


(Alberto Augusto Miranda)


voltar última atualização: 18/02/2009
11146 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente