avenida
Hoje cruzei a rua, era só a mesma avenida, bela, suja e escura
mas era algo como seus olhos, seu olhar em vapores
impressões
porquê de tudo que tenho, é isto o que você me deixa?...
desventura
corpo nu
mente transparente, cruel certeza tua
a mente a mil, o coração coitado, cheio de arrepios
"não és meu" é a cantiga
Mas como?! Como não seres meu, ou eu tua, quando por certo nunca houve
neste mundo verdade tão pura?
Que sujeira inexata nos traz esta vida abstrata, óh, é um olhar,
óh reboa em mim
E rasgo membranas, quero atravancar vias, pupilas e ataduras. Não, Não.
habitante do mar do anseio, escalo tuas costas, encostas, calculo tuas rotas,
ameaço depor-me em franca aberta derrota
e no entanto não o posso, eu sei... tu sabes, ambos somos legendários
da mesma esfera, nosso conhecimento é mútuo. Nossa busca insensata,
a gestos bruscos, razões enviesadas, somos péssimos bons atores
do show íntimo.
É grito surdo, ahhhhhhhhhhhhh
é rasgo profundo
puxo camadas e camadas de uma carne encardida
e não há nada, nada, além de sangue e vias...veias, tristes
e sutis fibras
Mas como?! Pergunto-me. Há tanto aqui! Tanto!!!
Como posso ser apenas este regalo de pele, ossos e fibras?!
Como posso não ter palavras, como posso não amar o amor, quando...quando,
tudo, tudo que eu queria
era cruzar a mesma bela, escura e suja avenida pra transpor sinais
e em alguma lateral dessas, numa dimensão paralela encontrar teu olhar
a passear
e rir, rir até chorar
num abraço da gente se acabar
se acabar pelo fim de jamais poder ser.
de não poder ter o poder de Ser/Ter
Eu queria transpor o sinal da avenida no meu coração e abraçar
você por um instante, reter num roçar de pele
todo o dizer que não cabe em rota nenhuma inventada pelo homem...
(Amarello)
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