Poema da meia idade
Durante o tempo que foi minha infância
Vivi na ânsia de crescer um dia
E o tempo rude não tardou seu passo
Fez meu regaço de melancolia.
Se hoje lembro quando eu menino
Sem ter destino, em liberdade plena
No meu presente vivo atrelado
A esse estado que só me envenena.
O eu menino, banhado em virtudes
As atitudes de pura inocência
Hoje carrega no meu eu adulto
A dor do insulto da incoerência.
Meu eu adulto não sabe sonhar
Para brincar, perdeu a magia
Quando menino com tudo sonhava
Quando brincava com a alegria.
Foi-se um tempo feliz, inebriante
O eu infante já não mais existe
Meu eu adulto não tem fantasia
Sem poesia todo o mundo é triste.
Vivo o presente de recordações
Minhas ações do meu eu crescido
É de lembranças do meu eu criança
Uma esperança de um tempo perdido.
Meu eu adulto há de servir um dia
A nostalgia do meu eu cansado
Quando a velhice se fizer presente
E de repente se fizer passado.
Sei que em breve hei de envelhecer
Irei viver um eu entardecido
Um pobre velho a cumprir destino
Do eu menino terei esquecido.
(Anacreonte Sordano)
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