A Noite
Quando a tarde inicia o seu descanso
E o sol já declina no horizonte
Como um manto de sangue atrás do monte
Vai melancólico, sutil e manso.
Até que fujam os seus derradeiros
Feixes de luz de encarnada cor
O dia veste-se com seu langor
E surge a noite dos aventureiros.
A boemia ai se faz presente
E é na fonte fresca do sereno
Que os poetas bebem do veneno
Desta mágica e lúdica serpente.
A embriagues se torna sublimar
É a vinha de todas as loucuras
A ilação da sensações mais puras
Que só os sábios podem desfrutar.
Beber da fonte da inspiração
Tornar o néctar da nostalgia
Absorver o mel da poesia
Que se esparge pela emoção.
A dama negra das vicissitudes
Habita em todos os lupanares
Onde os impuros vão buscar seus pares
Onde não cabe a Deusa das virtudes.
Neste universo onde se respira
O ar pesado da degradação
Onde é implícita a degeneração
E a podridão o homem se atira
O caráter da noite é ser boêmia
E os homens todos a reverenciam
Com a plenitude dos que principiam
No infausto reinado da blasfêmia.
A noite é dada para os denodados
Nela se fundem excitação, torpor
Fazendo o ódio entorpecer de amor
Na ânsia louca dos apaixonados.
Na madrugada todos os bacantes
Atormentados pelo alvorecer
Antes que o dia venha amanhecer
Retornam todos sempre triunfantes.
(Anacreonte Sordano)
|