apaziguamento
olho-te para além das colinas vazias de sombras,
descobertas e nuas,
raiando gritos e libertando os gemidos possíveis ao querer
para além do desejo
e penetro nos ocasos redundantes dos teus gestos,
ensaios que desenfreio como se só cometas fossem,
silvando na passagem e queimando, chamuscando.
soletro que só, e somente,
para além do desejo te quero
e que antes,
no prenúncio das pálpebras, só te amo.
olho-te,
para além das colinas repletas de saudade.
adivinho a insondável bruma,
inacessível à cintilação dos lugares comuns às
aves,
perscruto no lume seco o espólio de cinza
e instantes de agitação,
descobrindo o vazio onde o corpo e as penas assombram,
perturbam,
a crepuscular luz da noite,
que renasce e se funde com o reflexo, eco.
floresce na sua ausência o aroma do sangue
e cobre a minha pele a desolação da paisagem de areia tingida
a silencio,
e na precariedade dos sentidos o medo desperta
e aos guardadores do fogo,
meus olhos,
por paixão se entrega.
dilui-se assim a loucura,
no pulsar do poema,
ou do amor saturado de voláteis entregas.
(Ana de Sousa)
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