espero
e só te digo que são,
no agora,
inconstantes os voos dos insectos no tomar das flores,
não as querem elas por certos e nem mesmo eles se sentirão seus
pastores...
ocorrem-me que são dias de plena sucção de pólenes,
onde contemplativamente nos deixamos decorrer do orvalho que só acaricia
enquanto ninguém vê
e logo se ergue dilúvio na invocação de um beijo.
escreveu uma nota no papel absorvente
e deixou-a ao tempo,
suspensa na porta enrugada da entrada,
para quem viesse.
esperou os passos,
o calor da proximidade geográfica e o arrepio da pele.
esperou o abrir da porta
e a partida da corrente de ar frio constante da solidão.
ninguém veio com a noite e nem com a madrugada.
não teria visto a nota? o vazio escrito a quase sangue?
o apelo pleno de gritos?
não teria pressentido todo o silencio?
no avanço da noite recolheu à tristeza,
bebeu das lágrimas
e num assomo da dor que antecede o perecer da alma
expôs-se a todas as frentes do corredor,
alguém levara para si a nota,
e também a porta ficara só, ferida.
uma entre tantas iguais.
(Ana de Sousa)
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