a luz da vida e o abismo do propósito
perde muito nessa vida
aquele a quem não foi dada a oportunidade
de mergulhar nas profundezas de um bom poema
transubstanciar-se
em puro sentimento
fazer
o melhor do amor com ele
talvez perca o melhor
esse
milagre único
singularidade
momento
útero
que a vida nos dá
doa
para que nos transbordemos de desejos
carpe diem
seiva da vida
riso
preso na garganta e que não se aguenta ali
foge assustado o incauto acordado a pouco
da possibilidade de fazer-se a si mesmo
I
N C R Í V E L
foge o danado
do para
si
volta-se para o sono
esse que rouba as almas dos artistas
e
das ninfas pétalas doces de mel
nós temos na vida
esse
néctar
o que há de melhor em todo o universo
mas obesos
mas
brutos
cegos
e
certos
desviamos novamente o olhar
rilke!! meu mestre
o que será que falta nessas pérolas
será que não bastou o grão que pousou ali para ser
germina(n)do
o que faltou na subida ao monte
para que na derradeira hora
brotasse o desejo de mais uma vez
olhar para o que não foi pouco no vale da terra
e vislubrar o quanto há de belo
magnífico
em
cada segundo partido
oh!! hóstia consagrada
o
que será que perdes no teu olhar em cada segundo em que te decantas
cada milésimo em que evaporas
não percas o teu derradeiro segundo
evola-te
em curvas dentro do espaço
em espiral faiscante para dentro do si mesmo
que
não há nada mais belo
que não há
nada mais fantástico e incerto do que as tuas multipossibilidiversidades
ah!! esse animal em busca de si mesmo
é
o mais poderoso dos titãs que mordem o universo
é
desse homem que os brutos fogem
é
dessa máquina fantástica que os parasitas se escondem e debocham
um sorriso de analgésicos
é
por isso que estes homúnculos não dormem e cheiram pó até
o tampo do c(é)u
inventando
venenos para aniquilar-nos
é
por isso que a inteligentzia não cessa por desmoralizar-nos
e
inventam subterfúgios para aprisionar nossas potencialidades
estuprando-nos
espancando-nus maldizendo-los roubando-pus assassinando-tus desmoralizando-vos
massacrando-cus
tudo!!
para
não deixar que o titã acorde do seu sono de princesa
nessa
inércia laboratorial
e
fique ali
a
só rir
só
no lento
bobo
da corte
plebe
ignárea
hipnotizados
por facas amoladas
e
telas fosforescentes
voltem meus irmãos
não
desviem-se do caminho que leva ao norte dos homens
não percam um tempo que é mais-do-que precioso
amarrado
a estas ilusões que estancam a urgência da paixão humana
que muito pouco tempo temos para viver dessa impossibilidade incrível
absolutamente improvável
desde
o primeiro choro
desde
o primeiro brilho de luz rasgando a retina
desde
o primeiro agarrar-se com os dedos
desde
o primeiro sugar de seiva e aconchego no colo do calor
desde
o primeiro contato com a chama-aton que nunca cessa
e
ilumina a água da vida
nós somos uma conquista do universo
mas sónóslentos e sonamburros permanecemos crianças
gigantes
dançando ao toque destes espertos que nadam no seu avesso
e
ingestam a sua própria carne paralítico-parasitária
adultos ainda crianças
velhos
inda crianças
meninas
mulheres mães e borboletas de maio
conectadas
a deusa
mas
ainda crianças nuas e envergonhadas
distantes
da fonte-força capaz de entortar o rumo a história
como se a decisão não fosse possível
tão longe estamos da convicção na autocondução
de nossos destinos
inda em botão crescemos na umidade do chão
gestantes
e gerantes
inda
assim
não
há mais tantas desculpas para
sermos
tão irresponsáveis
nascidos do chão
levantados
no tempo
homo-sapiens-erectus-projetos-para-si
arrancados
da seiva da vida
poeira cósmica ajuntada na alquimia da paixões
não!!
já não há mais tantas desculpas para esse irritante desvio
no olhar
não há tantos subterfúgios para sustentar essa
grande
mentira de que não tomamos decisões transformadoras
falácia de um falastrão
inteligencia
de um bobo que não vê o reflexo da própria ação
a
pior das invenções humanas é a certeza
ela
é o combustível da vaidade
vaidade
constructo vil
que
reside primorosa
boiado
no suco da matrix (ideologias)
o mais perigoso dos constructos
a
vaidade humana cega o entendimento
imperdoáveis
se
não respeitarem a vida
imperdoáveis
se
não implicarem-se com o milagre
imperdoáveis
enquanto
não se atreverem a dar o salto por sobre o abismo
ou
mesmo
construir
a ponte
pela simples falta de coragem
digamos
não ao discurso de que somos cegos no castelo
coragem
essa sentimento que não se compra em vitrines
ou
casas de show
e que o humano tem dentro de si
borbulhando
no crisol mágico da vida
imperdoáveis
se não tiverem coragem para assumirem-se a si mesmos
não há desculpas
o homem que está no caminho
entre
tem de ser uma promessa
rezada todos os dias
a
cada passo
a
cada nota tocada pelo coração
nesse
meio
entre
eu e tu
tu
e outro
unidos
aqui e agora
através da ferramenta da palarva
simples
não me faltou coragem para prosseguir
num
caminho onde não existem certezas
essa
constructo rasteiro ainda não aprisiona
certezas
germe roedor de tantos medos
será que a palavra foi dita com a sintonia capaz de aprisionar o olhar
qual a próxima mensagem
qual a derradeira linha
qual o fim do encontro
deste
que
até aqui
só
me desejou
existência
abre os olhos ninfa
que o maio dos homens vos aguarda desde o princípio
abre os olhos
abre os olhos irmão
abre os olhos mulher
abre os olhos borboleta
tu que és o mais temido dos titãs
é chegada a hora de aprendermos a aprender
assim como criança tem de aprender a andar
o homem precisa aprender a encontrar a si mesmo
tirar de dentro de si o que ele é
uma
ponte entre o ser e o nada
entre
a luz da vida e o abismo do propósito
abre os olhos irmão
abre os olhos mulher
abre os olhos borboleta
(Andrey Mozzer)
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