o herdeiro do século XX
nunca mais caminharei pelas calçadas de pedra
de minha cidade pensando um poema
nunca mais do vale dos abismos desenhados pela
poética da engenharia olharei para cima para que
meus olhos bebam uma nesga azul de céu
nunca mais dobrarei antigas e amigas esquinas
redobro a consciência
recobro ciências primitivas
atiro poesia ao fogo
antes que as ampulhetas derramem o último grão
do tempo contado sobre as asas de um pássaro
metafísico
vulnerant omnes, ultima necat dizem velhos relógios
(Antonio Canuto)
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