A Garganta da Serpente

Antônio Nobre

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

(Ladainha)

Teu coração dentro do meu descansa,
Teu coração, desde que lá entro:
E tem tão bom dormir essa criança!
Deitou-se, ali caiu, ali ficou.

Dorme, menino! dorme, dorme, dorme!
O que te importa o que no mundo vai?
Ao acordares desse sono enorme,
Tu julgarás que se passou num ai.

Dorme, criança! dorme sossegada
Teus sonhos brancos ainda por abrir:
Depois a morte não te custa nada,
Porque a ela habituaste-te a dormir...

Dorme, meu anjo! (a noite é tão comprida!)
Que doces sonhos tu não hás-de ter!
Depois, com o hábito de os ter na vida,
Continuarás depois de falecer...

Dorme, meu filho! Cheio de sossego,
Esquece-te de tudo e até de mim!
Depois... de olhos fechados, és um cego,
Tu nada vês, meu filho! e antes assim...

Dorme os teus sonhos, dorme, e não mos digas,
Dorme, filhinho, dorme "ó-ó..."
Dorme, minha alma canta-te cantigas,
Que ela é velhinha como a tua avó!

Nenhuma ama tem um pequenino
Tão bom, tão meigo; que feliz eu sou!
E tem tão bom dormir esse menino...
Deitou-se, ali caiu, ali ficou.


(Antônio Nobre)


voltar última atualização: 08/07/2005
5030 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente