A Garganta da Serpente

Archibald McLeish

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INVOCAÇÃO À MUSA SOCIAL

Señora: é verdade que os gregos estão mortos.

Também é verdade que nós cá somos Americanos:
Que usamos máquinas: que a visão de um deus é invulgar:
Que mais gente pensa mais: que há

Progresso e ciência e tractores e revoluções e
Marx e as guerras mais antisépticas e assassinas
E música em todos os lares: e que também há o Presidente

Sugere a senhora que devemos declará-lo na Palavra?
A Madame chama-nos à responsabilidade? Somos
Prostitutas, Fraulein: os poetas, Fraulein, são pessoas de

Reconhecida vocação no seguir tropas: têm de dormir com
Sequazes de todos os príncipes e ambos os partidos.
As regras não lhes permitem fazer até ao fim o jogo de

É também estritamente proibido meter o nariz em combinações políticas;
Os que as infrigem são inflados de louvores nas praças
E os ossos deles, em consequência, são encontrados

Preferindo viver com os filhos a morrer com os pais,
O caso é que os arquivos nos fazem duvidar de se os filhos
Ainda hão-de gritar em volta os mesmos gritos -

Porque, minha Senhora, esperamos viver o bastante para

Há apenas uma mão-cheia de coisas de que um homem
De geração em geração, com fome ou

Bem comido: a terra ç uma, a vida é
Outra. O banqueiro Morgan não é:

Nada é pior para nós do que andar à moda:

Aquele que vai nu chega, no fim das contas, mais longe do que um outro:
Embrulhem o bardo em bandeiras ou escolas que elas
A porta e não lhe saem da cama - por um mês:

(Os Imagistas... quem recorda ainda onde moravam?)
Mas o homem nu tem sempre a sua própria nudez:
Lembrar-se-ão sempre as gentes de seus membros vivos:

Podem expulsá-lo dos acampamentos, que alguém o
Podem afogar-lhe a língua nos dentes com um argumento
E ele estará bem quente numa casa, enquanto são eles

De resto, Tovarich, como abraçar um exército?
Como levar para o quarto um milhão de almas?
Como emprenhar em nome de uma coluna em marcha?

As coisas do poeta fazem-se a um homem só
Quais as coisas do amor são feitas - ou as da morte, quando ele ouve o
Passo que se afasta na escala e só o relógio soa.

Nem os da sua classe ou sua estirpe ou seu modo de vida devem aproximar-se de
Lá onde ele jaz sobre o braço esquerdo e morrerá:
Nem os da sua classe ou sua estirpe ou seu modo de vida, quando o sangue escarnece
E o joelho dele está no côncavo da cama onde o seu amor

Lembro-lhe, Barínia, que a vida do poeta é dura -
Uma vida das duras, com a bota sempre pronta para o
É justo ainda pedir-nos para pegar em armas?

(tradução: Jorge de Sena)


(Archibald McLeish)


voltar última atualização: 18/10/2005
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