Talvez escrever seja assim
Escrever não é sinônimo de paraísos
Nem de encontros bem-sucedidos.
Hora somos muitos
E ao mesmo tempo nenhum.
Escrever é anular algo.
É retirar de si o mais profundo
É amar a todos
E odiar o infinito.
Revelar aquilo que talvez não fosse você.
Preenchendo assim o vazio
De alguém que não está.
Escrever é faca afiada:
Corta os dois lados.
Escreve e tem.
Escreve e perde
A liberdade de ser alguém.
Talvez escrever comece no ventre da mãe que se doa,
No fôlego que o Soberano concedeu.
Escrever dói e ao mesmo tempo sacia,
Mata, aniquila, dá alegria.
Escrever faz perder a razão
E só pode ser feito quando vem do coração.
É pretexto dos leigos.
Solução para os defeitos.
Pode ser construído por entre os dedos ou joelhos.
Escrever é ter a resposta do que se inicia.
Sobre o eterno dia ou alvorecer.
É viver a melancolia
Sem nunca perder o sorriso
Daquela criança que um dia viu crescer.
É preencher o vazio.
Regozijar na mentira.
Fazer da mesa fria fartura,
Fartura que não aniquila.
Talvez escrever seja estender a mão ao futuro.
Dançar... Dormir... Como defunto.
É não ter,
É não ser,
É não sentir
E sempre querer.
É ser você feliz ou infeliz.
É amar e não poder,
Querer e nunca ter.
Escrever é encher os olhos de vida,
Enquanto no coração há uma eterna ferida!
(Ariana Segantin)
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