A Garganta da Serpente
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

A poesia aparenta ser poesia

algo simples e patético
puramente espontâneo
pontapé natural
pastiche casual

torneira insana
escrito assaz corriqueiro
feito o olhar de uma pessoa
ou o arrôto de um deus

o poema necessita de um som estranho
e a um só tempo
uma música harmoniosa
apito de trem e sirene de navio

embalado pelo inusitado
deve ser o que não deve
um riso por dentro
uma coleção de figurinhas

o toque maldito/espiritual de Midas
coisa de outro mundo pantanoso
a luz da caverna
o açoite do demônio

tratado da demência cultural
desmonte de palavras esdrúxulas
escolhidas a dedo num dicionário
agrado singelo do coração

mesmo em verso ensebado
risco epigrafado
efeito de um gás roxo esverdeado
e de uma paixão desesperada

o poema é totalmente artificial
criado pela superficialidade da mão
pervertido pela sociedade intelectual
e colorido com a textura do verbo

nascido da sensibilidade bruta
não possui sentido real
eu amo o que eu li
sendo mais uma paródia do homem de proveta

tem de ser paragrafado e lapidado
pensado/inspirado/trabalhado
enfeitado/limpo/enfeitiçado
corrigido/impresso/digitalizado

além de toda a seda da intertextualidade
o poema tem de ser ele mesmo
dividindo a individualidade e a coletividade
disputando a originalidade a tapa

dívida líquida do acaso
acorrentado a fachada de alguém
tachado de vício de linguagem
jogado num depósito de lixo


(assis)


voltar última atualização: 23/02/2011
25141 visitas desde 01/07/2005

Poemas deste autor:

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente