Por muito tempo
ninguém me vê
mas eu vejo todos
ando na madrugada
sempre no mesmo passo
fuga do destino irreversível
dia após dia
coração no peito
cabeça nas nuvens
barriga resmungando
carros em disparada
a criação não acabou
o peso da gravitação universal
no jogo astronômico
dedos do acaso na pele das galáxias
continuação perpétua
o trabalhador caminha
o atleta corre
a mulher suspira
o poeta escreve
a criança sonha
ninguém me vê
mas eu vejo todos
os anjos e os demônios da noite
as flores espalhadas no lixo
tudo jogado nos canteiros das avenidas
deitada na cama
assistindo novela
a mulher pensa
(assis)
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