A Garganta da Serpente

Augusto de Lima

Antônio Augusto de Lima
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SONHO TRANSFORMISTA

A Gaspar da Silva

O giro do Ser é vário,
do Tempo ao eterno escopro.
O gozo de hoje é precário,
e foge-nos como um sopro.

Quem diz que a flor no pedúnculo
não é uma alma a cismar,
e que os brilhos do carbúnculo
não são chamas de um olhar?

A podridão é antiética;
cria os vermes e os perfumes,
e na sua treva hermética
palpitam ridentes lumes.

É uma retorta o ossuário,
em que se fabricam flores;
do humor frio de um sudário
fazem-se as tintas das cores.

É monótona a existência
antes da Dissolução;
só depois a nossa essência
paira livre na amplidão.

Ou pelo deserto lívido
vai correndo errante, errante...
ou da flor no cálix vívido
se faz perfume fragrante.

Arranquem-me a ardente túnica
da vida agitada e vã:
vejam, minha ambição única
é de ser lírio amanhã.


(Augusto de Lima)


voltar última atualização: 18/10/2005
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