A Garganta da Serpente

Benny Franklin

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POEMA DE ENCANTAR SERPENTE EMPLUMADA

I

Ó senhor dos montes claros!
Muito antes que este poeta existisse
Desvirginando-se amoroso ante as virgens moçoilas porto-riquenhas
E se embebedasse de rios de claras águas
(Córregos mares roseiras apetitosas esperma de engendrar mangueiras)
Já existiam por essas bandas amazônicas as fêmeas serpentes belemitas
Que à época da invenção do fogo afiavam suas presas ainda meninas
No afã de expor-se à vida de gozo fácil
Cuja intenção maior era leiloar as suas enormes vaginas
Remunerar os milhões de abelhas assassinas
E empurrar ardorosamente o beijo da morte
Às bocas carnudas de nossas fétidas latrinas
Sim Senhor!
Muito antes que este poeta se desvirginasse em sóbrias leiras
Masturbando-se queixoso ante as castas raparigas caribenhas
E se aproveitasse das fogosas gaúchas de grossas pernas
(Cabarés bares parreiras broxadas galas de penetrar sumaumeiras)
Já haviam por essas terras santarenas as fêmeas jacintas israelitas
Que à época da vertigem da água matavam suas presas ainda cabritas
No afã de pôr-se em cópulas de gozo fácil
Cujo orgasmo ali derramado curaria as suas enormes feridas
E assassinaria milhões de vespas malignas
No intuito de merecidamente grudar o aroma da morte
Ao beiço carnudo das mal-cheirosas lamparinas

II

Ó pobres homens!
Ó cegos corações!
Não duvidem que a mercê da ignorância poética das pedras
O desenlace virginal deste inquieto poeta beat,
Tenha ocorrido em tenra idade...
Contai-me através de que escuridão e risco
Incidem o pouco tempo de vida!
Ser-me-á de grande prezo sabê-los inquisidores
Impedirá que eu erre equivocado
E caminhe sempre acabado disposto ir
À cata das essências supremas:
E não confie nas impuras palavras de mim
Porque o vidro recorta a palavra
- e fere o poeta com a imensidão
De sua frieza!
Porque o rio destrói a palavra
- e gala o poeta com a enormedez
De sua incerteza!
Porque a alma elimina a palavra
- e extingue o poeta com a fomedez
De sua beleza!
Porque a vida cria a palavra
- e escarra o poeta com a insensatez
De sua grandeza!

III

Ó senhor dos grandes céus!
Encanto dos homens e dos seres elementares!
Ó nuvem passageira!
Que por sob vaginas errantes povoas o navegado desejo
E cobres com teu orgasmo as mulheres férteis de árido rendez-vous!
Por sua intercessão
Ó Senhor se concebe todo esqueleto de amores vivos
E brotando vida tu admiras a lucidez do sol da meia noite
Por isso de ti escapam os gozosos ventos solares
Ó Senhor de mim!
De ti mal tu abordas
Calam-se as vozes da terra
E a ti oferece o prado zeloso das meigas orquídeas
Para ti riem as criaturas do mar
E o orvalho amazônico dos dias em paz infinita
Inundado de luz

IV

Ó senhor do amor!
Deixe contudo que por mares e por terras
Quietos se aplaquem os gritos desesperados dos poetas
Só tu podes conseguir para os mortais
A eterna calma já que é Bush o soberano dos exércitos
Quem ordena esses violentos duelos de vida e morte
E é ele quem muitas vezes se alimenta em teu jantar
Sobrepujado pela perene chaga do amor
E elevando os olhos para ti
Dobrando para frente a cabeça ferida à corda
Fica alienado como que aéreo de teus conselhos
Morresse a mingua por falta de humildade

V

Ó senhor da vida!
Não fosse esse poeta nascer do nada
Tudo poderia nascer de tudo
E fato algum teria precisão de esperma e cultivo
Poderiam surgir espaçonaves no ar
Roubar da terra o alimento dos deuses capitalistas
E os santos precipitarem-se do céu
E os anjos os outros guardiões e toda a espécie de hostes
Ocupariam dado o acaso da procedência poética
Os solos cultivados sul-americanos
E os desertos africanos...
De onde vêm a terra os frutos polares e os canaviais
Que de insosso lhe adoçam bocas alheias?
E o homem de aço como sustenta as palavras?
Do alto da morbidez da ganância
As tempestades imploram à palavra restinho de orgasmo
Porque bem antes de o poeta existir como um Deus
Ter-se-ia a fêmea-palavra morrida de gripe aviária
(Ré) transformando-se por fim
Em genitália de alma penetrada


(Benny Franklin)


voltar última atualização: 17/11/2006
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