A Garganta da Serpente

Bernardo Guimarães

Bernardo Joaquim da Silva Guimarães
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A fugitiva

Eu tenho n'alma um desejo,
Que eu almejo
Linda virgem, revelar-te;
Mas devo guardar segredo;
Tenho medo,
Muito medo de enfadar-te.

Murcha a tenra sensitiva,
Sempre esquiva
Ao toque de minha mão.
Tenho medo, ó virgem bela,
Que, como ela,
Me feches teu coração.

Como a rolinha amorosa,
Que medrosa,
Estremece de pavor,
E logo de susto voa,
Se ressoa
No bosque um leve rumor:

Assim tu, virgem formosa,
Pressurosa.
Assim costumas fugir;
Se este amor, em que deliro,
Um suspiro
Indiscreto vem trair.

Vê, como o lírio singelo,
Puro e belo,
Desabrocha em teu jardim!
Foi criada para amor
Essa flor,
Essa flor tão linda assim.

Se junto dela desliza
Doce brisa,
Toda de amor estremece;
E fagueira e sem queixume
O perfume
De seu cálix lhe oferece.

Se do amor que me consome,
Nem o nome
Tu me queres escutar,
Ensine-te ela o segredo,
Que eu de medo
Mal te posso murmurar.

Mas no véu encantador
Do pudor
Em vão procuras abrigo;
Em qualquer parte que fores,
Os amores
Hão de sempre andar contigo.


(Bernardo Guimarães)


voltar última atualização: 11/12/2007
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