Cela de ouvido
O tempo gasto, velho, intrépido e ultrapassado
De sinfonia estridente e mordaz
Cala perante as súplicas dos amores sagrados
Faz-se estanque em meio ao movimento eterno das coisas
E se distingue de tudo o que não é manejável, controlável
O tempo dos amantes coexiste com a ausência dele
Como um sinal de respeito pelo deserto que se levanta
Em meio ao excesso de rostos e mãos e pernas e sexos
Mas, o que diriam os sedutores assexuados pela vaidade?
Talvez reclamem do tempo mais tarde
Quando os apelos corpóreos bruscamente os abandonarem
Fazendo instalar em si mais lembranças que vivências
(Bernardo Almeida)
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