Isca da jovialidade
Este é apenas mais um daqueles fins de noite
Em que sinto-me perdido e abandonado
Fincado à contra gosto em um mundo tão vasto
Para um solitário convicto, temperamental
Dispersivo, despretensioso, evasivo e catastrófico
Um clarão que se doa à escuridão alheia
E escreve calado enquanto apanha dos sinos
Mudos e contemplativos da obscuridade protetora da noite
Mantendo um ritmo só para passos e versos, evitando rimas
E disseram ainda que precisava de um ofício urgentemente
Pois a fórmula da auto-realização, do sucesso e da felicidade
Seria ter ambições flutuantes, metas sólidas, especializações
abundantes
E diplomas para irrigar a plantação de inutilidades que se tornou
a
vida do homem
Sorte a minha não ter precisado jogar cinqüenta preciosos anos
aos ares
Como a poeira deixada por um corpo cremado pelas mãos restantes
Para descobrir que tentavam ludibriar-me através de variados meios
Visto que a única láurea da vida consiste em vivê-la plenamente
(Bernardo Almeida)
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