A Garganta da Serpente

Bernardo Almeida

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Escuto um soluço insistente vindo da sala
Talvez seja a Lua aflita pelos trovões
Que cercam-na em forma de pensamentos
E há também uma estrela que chora em meu quarto
Deita sobre a minha cama pontualmente às dez
E deixa brotar a crise de todos os amantes abandonados e traídos

O meu quintal é um cemitério de carros roubados
No qual abundam esqueletos metálicos
Que ordinariamente reluzem formando um bizarro carrossel
De seres com cabeça de animal e corpo de homem
Conduzidos invariavelmente pelos dedos da vergonha, da decepção e do
arrependimento

Brado então, em desesperado clamor, pelo Sol
Que sempre ascende quando apago
Mas ele parece não me atender
O pedido que faço está fora do seu imutável turno
E, enquanto espero, tento expurgar a minha dor
Para consolar a Lua e enxugar a lágrima da estrela depressiva que me guia


(Bernardo Almeida)


voltar última atualização: 11/12/2007
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