A Garganta da Serpente

Carlos Rodolfo Stopa

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O Olhar dos Vivos

(Há uma dor de ocos pelo ar sem gente... - Garcia Lorca)

Entardece... nas ruas calmas cessa a vida,
E sob o manso choro da garoa da tarde,
Com os olhos feridos pelo brilho das pedras,
          Caminho...

Em sua cinzenta habitualidade,
Os homens caminham pela mesma calçada de ontem;
Esperam viver amanhã o nada de hoje.

Lá dentro daquelas casas antigas,
Almas vazias, flores mortas e pardas relíquias
Relembram priscas glórias.

Nas janelas, moças tristes e sonhadoras,
Tricotando o seu tédio,
Olham para um futuro que não virá.

No suave entardecer,
As pálidas luzes que escapam das janelas
Brilham por entre os galhos escuros das árvores,
E enchem de angústia a minha alma.

A extensão infinita da rua (da Estação) une os altos da cidade
E promete saídas que muita gente não ousa.

No silêncio do largo da velha matriz
Ecoam, alegres, os gritos da infância distante.

As tristes águas dos janeiros que demarcam a vida,
E as formigas cortadeiras que carregam tenros brotos
Evocam a finitude.

A matéria efêmera banhada em lágrimas
Passa ladeira acima ao lado do Rosário
E leva consigo, por instantes, o olhar dos vivos!
E no entanto,
          Caminho...

Da coletânea "Araguaris(Narrativas Poéticas)"


(Carlos Rodolfo Stopa)


voltar última atualização: 24/03/2006
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